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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/04/2022

Onde o clube e o museu são um só.

ZABRA a dobrar dimensões no Musicbox e a reforçar o que é isso de se ter uma pista de dança transdisciplinar

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/04/2022

Talvez pareça invulgar apontar uma noite de quarta-feira na nossa agenda pessoal para descontrair numa sessão de clubbing – talvez esse próprio factor justificasse o clarão que se fazia notar no recinto do Musicbox à meia-noite, hora assinalada para o início do evento. Porém, esta sessão de clubbing é, também, invulgar: após quatro anos a puxar os limites da experimentação e da transdisciplinaridade na música electrónica, a ZABRA aumenta a parada com a residência Folding Dimensions, que procura reinventar a pista de dança dentro de uma exploração harmoniosa entre som e luz, tendo sido dado o mote de partida a 6 de Abril (com as próximas intervenções agendadas para os dias 13 e 20 do mesmo mês). 

A pista podia estar a aquecer, mas isso não serviu de impedimento para que Carincur abrisse a actividade com um tema de intensidade industrial, e as projecções de luz roxa por parte de João Pedro Fonseca, inicialmente emergindo em simples formas circulares, começavam a desdobrar-se em diversas formas geométricas que se movimentam de forma simultaneamente veloz e trémula, condizendo com o mood auditivo naquele momento. O set de Carincur ofereceu uma selecção de bass music não apenas bastante musculada como também ecléctica, algo comprovado pelo facto de, menos de meia hora volvida, sermos presenteados de igual forma com temas que piscam o olho ao IDM e beats four-on-the-floor que nos impediam de abandonar a pista. Foi também durante esta altura que a presença do público se afirmou no espaço, tornando-se bastante óbvio o quão cativado se encontrava perante a valsa que os jogos de luz dançavam com a música que acompanha, absorvendo de forma maravilhada a experiência audiovisual como quem visiona um objecto artístico numa qualquer galeria ou museu. 

Seguiu-se Noura que, de uma forma relativamente contrastante, nos guiou para uma viagem nostálgica onde o drum ‘n’ bass e o jungle foram os estilos predominantes que nos iriam fazer mexer nas próximas horas. Que se engane qualquer pessoa que pense que esta investida possa estar em desalinhamento para com o conceito inovador desta residência – na verdade, foi durante este set que se presenciou um dos momentos climáticos das projecções de luz, que envolvem o público como cúpulas de formato cónico, criando um efeito sensorial deslumbrante ao som dos ritmos rápidos que se fazem afirmar. E a tracklist de Noura não é apenas feita de retrocesso: ouvimos, pontualmente, passagens pelo baile funk ou pelo footwork mais desconstruído, interligando-se de forma perfeitamente natural com as restantes músicas escolhidas.

Por fim, João Pedro Fonseca assumiu o comando da cabine, mantendo, no entanto, o seu dever de iluminador de serviço. O multitasking compensou: Fonseca assimilou todos os estilos musicais ouvidos nesta noite e empacotou-os dentro de duas horas de produções implacáveis e, se até ali a componente visual se fazia destacar essencialmente pelas projecções incididas na zona da plateia, as strobe lights que, até então, surgiam de forma ocasional e discreta, ripostavam agora de mão dada com as batidas pujantes que não deixavam vacilar ninguém que se encontrasse no recinto do Musicbox neste momento.

Encerrada a noite, ficou a certeza de que ficou indiferente a esta experiência. Parece haver um novo caminho bastante estimulante para explorar dentro da cultura clubbing, e, a julgar por esta primeira experiência, não se consegue olhar para as sessões vindouras senão com entusiasmo, ou, no mínimo, com imensa curiosidade.

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