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Fotografia: Grafonola
Publicado a: 13/02/2025

Um grande som não precisa de grandes planos.

Troll’s Toy: “A música não é nossa. É do universo”

Fotografia: Grafonola
Publicado a: 13/02/2025

Jorge Loura (guitarra barítono), Gabriel Neves (saxofone tenor) e João Martins (bateria) já se conheciam de outras paragens — da banda Souq, mais precisamente — quando decidiram aprofundar a relação musical que os une no diálogo a três vozes que podemos escutar em Troll’s Toy. Oriundo de Aveiro, este trio exibe no seu som, tanto em palco como em estúdio, uma musculatura rock que se expressa através da imprevisibilidade do jazz, combinação tão explosiva quanto cósmica que os aproxima de um registo que temos vindo a aplaudir por cá quando vindo das mãos dos Ill Considered ou The Comet Is Coming.

Três álbuns em nome próprio — 18:05 (2019), Eksterordinare (2021) e Palingenesis (2024) — e um outro projecto colaborativo — Synesthesia (2023), com João Salcedo — depois, a banda passou pela primeira vez pelas páginas do Rimas e Batidas na semana passada através de um concerto exclusivo para o nosso canal YouTube, que recupera uma performance captada a 30 de Novembro de 2024 no GrETUA (e que será transmitida no próximo domingo, dia 16, na emissão no programa Notas Azuis da Antena 3).

Este sábado, 15 de Fevereiro, há uma oportunidade de os apanharem ao vivo no Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro, ocasião que nos levou a desafiá-los para uma entrevista, numa altura em que, revelam, se encontram também a preparar um novo registo discográfico. Entre planos mais concretos e felizes acasos, os Troll’s Toy passam em revista todo o seu percurso até aqui.



Lançaram o primeiro álbum em 2019, o terceiro em 2024. Querem fazer-me um mapa a traços largos do vosso percurso até aqui?

[Jorge Loura] Nós temos uma outra banda, já mais antiga, que são os Souq, cujo álbum de estreia saiu em 2014. Em 2016 estávamos a gravar um segundo álbum. Eu comprei uma guitarra barítono por pura diversão…

Porque toda a gente faz isso a uma dada altura da vida, não é? [Risos]

[Jorge Loura] Claro [risos]. Faltava-me essa. Entretanto comprei mais duas, mas isso é um outro assunto [risos]. Assim de repente, deu-nos a ideia de fazer uma coisa instrumental. Com uma guitarra barítono, quem é que precisa de um baixista, não é? [Risos] Junta-se o saxofone e a bateria, e decidimos começar a curtir. A ideia nem sequer era fazer uma banda de jazz, de rock ou coisa alguma. Era fazer música instrumental que fosse, sei lá, pós-rock ou uma coisa assim. Basicamente, queríamos fazer música instrumental. Só quando começámos a ensaiar é que vimos que improvisamos bem uns com os outros. As coisas começaram a sair de improviso. E houve um outro acontecimento, que foi: nós estávamos no primeiro ou segundo ensaio e um colega nosso, Henrique Portovedo, que programava um espaço cá, em Aveiro, ligou-nos numa quinta-feira, porque uma banda que ia tocar na sexta ia faltar. Ele perguntou se tínhamos alguma coisa para desenrascar no dia seguinte. “Olha, nós temos aqui uma banda de improvisação que nasceu hoje. Podemos ir aí amanhã improvisar.” E acabámos por ir. Percebemos logo que tínhamos uma banda que estava a funcionar. Passando à frente, o nosso concerto mais a sério é, para aí, de 2017 ou 2018. O primeiro álbum chega em 2019, depois o segundo álbum em 2021 — e é um vinil duplo. Esse segundo, Eksterordinare, nós tocámo-lo muito. Para uma banda que tinha acabado de surgir, nós ainda demos muitos concertos nesses dois anos. Quando achávamos que íamos arrancar, lançamos o álbum em plena pandemia. Não foi a melhor ideia do mundo, mas nós também não aguentámos. A coisa estava gravada e não aguentámos guardar aquilo, a pensar em grandes ideias de marketing [risos]. “Temos música, vamos mandá-la cá para fora.” Lançámos o terceiro álbum no ano passado, mas em 2023 lançámos um álbum especial, Synesthesia, que foi com o pianista João Salcedo. Foi um bocado como este. Fomos improvisar um dia e quando damos por ela já tínhamos um álbum gravado, que saiu em formato de garrafa de cerveja, não sei se viste. Portanto, não é um álbum dos Troll’s Toy clássico, mas é um álbum dos Troll’s Toy com um amigo, um músico incrível que nós adoramos.

É um desvio. Um pequeno desvio no percurso.

[Jorge Loura] Exactamente. E o nosso percurso é esse, resumidamente. Este novo disco, Palingenesis, não estava nos planos. Nós estamos a planear gravar um álbum durante o Inverno, mas este Palingenesis não estava nesses planos. Aconteceu nos estúdios Arda Recorders, no Porto. Um miúdo, o Tiago Vaz, tirou um curso de produção lá e tinha um dia de estúdio para gastar. Mais uma vez, houve uma banda que não pôde aparecer de um dia para o outro e fomos para lá nós. Não tínhamos música nenhuma. Improvisámos, depois olhámos e “olha, temos aqui um álbum.”

[Gabriel Neves] Ligaram-nos à meia-noite [risos].

[Jorge Loura] Segunda-feira de manhã estávamos nós lá [risos]. Foi isso. Misturámos, de repente temos um conceito e lançámos. Mas este álbum não estava nos planos.

Isto de responder a solicitações de última hora e conseguir apresentar um corpo musical consistente significa que vocês têm um super-poder que eu muito prezo, que é o da capacidade de criação livre e espontânea. Quando vocês tinham o projecto Souq e pensaram em criar uma coisa diferente, essa ideia do improviso como estando na base da vossa música foi logo definida à partida ou foi algo forçada devido a não terem nada para apresentar e terem de improvisar? Qual era o plano?

[Jorge Loura] Não houve um plano, aí é que está. Foi só vermos o que é que saía.

[Gabriel Neves] Eu acho que há um momento, no Funchal, em que os Souq estão a tocar e há uma improvisação, em que nós os três… Há um colega nosso que diz nós os três dávamos uma banda, porque estávamos em sintonia. Nesse dia o Jorge tinha comprado a guitarra para gravar o disco, estávamos a magicar qualquer coisa. Foi um momento feliz. Começámos a entender que havia aqui mais qualquer coisa. Acho que foi numa varanda de um hotel em que o nosso colega Paulo Gravato disse que nós dávamos uma bela banda.

Isso significa que vocês de repente descobriram que falavam uma linguagem comum. De onde é que vocês acham que isso vem? São gostos semelhantes, percursos idênticos enquanto estudantes? Há coordenadas que vocês partilham ou vocês encontram-se nas vossas diferenças?

[Jorge Loura] Curiosamente, nós somos de gerações muito diferentes. Eu e o João estamos um bocado mais próximos. Eu sou o mais velho, apesar de não parecer [risos]. O Gabriel é muito mais novo do que nós. Essa diferença de idades já causa o seu impacto. Depois, a nossa formação é muito diferente. Eu e o João começámos no rock em adolescentes, separados. O Gabriel vem da música clássica. O João foi estudar jazz e já chegou ao fim do jogo do jazz, ao último nível.

Cinturão negro?

[Jorge Loura] Cinturão negro! O Gabriel passou pelo jazz de raspão, mas toca, na minha opinião, jazz como pouca gente. De repente, estamos os três juntos… É claro que gostamos de muitas coisas em comum. Falamos de música e ouvimos discos. Mas todos conhecemos discos que os outros não conhecem e estamos sempre a mostrar coisas uns aos outros. Mas as nossas linguagens são mesmo diferentes. Cada um de nós toca de uma maneira completamente diferente.

Então encontram-se nas vossas diferenças, não é?

[Jorge Loura] Sim, encontramos.

Tu mencionas vocês serem de gerações diferentes, mas que encontram uma forma de comunicar. Eu imagino que, quando criam a banda, não agarram logo num rótulo para lhe colocar. Mas quando é que vocês começam a ouvir-se a vocês próprios e a pensar: “Hum, se calhar há qualquer coisa de jazz aqui dentro”?

[João Martins] Não sei. Acho que foi, se calhar, nos primeiros ensaios. Raramente levávamos papel para os ensaios, principalmente nos primeiros, em que era tudo improviso. “Olha, tenho aqui esta ideia.” E começávamos a trabalhar naquilo até que, ao final de algum tempo, aquilo já era uma música. Aliás, nós temos várias músicas que nasceram de improvisações. O primeiro concerto que fizemos mais a valer foi no Jazz, Sunset e Meia, em Aveiro, e foi em grande parte improvisado. Houve partes desse concerto que nós depois aproveitámos para gravar o primeiro disco, como se fossem temas. A parte do improviso, pelo menos para mim, ficou clara desde o início. Nós íamos ter algumas ideias, mas a maioria iria ser improvisação. Por acaso, o Gabriel não foi ao primeiro concerto de Troll’s Toy de todos [risos]. Marcaram-nos o concerto e, por uma questão de agenda, o Gabriel foi fazer um outro concerto. Ele foi ganhar dinheiro [risos]. Então eu e o Jorge fizemos um concerto de uma hora e tal lá em Aveiro com um papel que dizia “entras tu, aqui entro eu, aqui um crescendo, aqui um decrescendo, aqui tocas forte, aqui tocas piano, improvisas tu, improviso eu…” Eram só coisas assim escritas em português. Não existia uma nota de música. Aquilo ia ser completamente… Eu tinha um guião, ele tinha outro. Então nós vamos olhando e se estivéssemos no mesmo sítio, espectacular; se não estivéssemos, espectacular na mesma, está tudo bem [risos]. Então pronto, esta parte da improvisação sempre esteve no cerne da banda. Nós já sabíamos que ia ser improvisação com algumas ideias escritas.

[Gabriel Neves] Nós levámos um tema para o concerto no Jazz, Sunset e Meia, em que o papel em que ele vinha escrito estava cifrado.

[Jorge Loura] Ainda nesse concerto, há uma outra coisa. Nós tínhamos combinado entrar com um ambiente assim, meio espacial. Aquilo era num fim de tarde, com uma vista assim, lindíssima. Havia pessoas e crianças sentadas a ver o pôr-do-sol. Estava planeado o nosso primeiro tema ser uma improvisação calminha, cheia de reverbs e coisas. Só que houve uma alteração e o concerto foi adiado por 45 minutos, não por responsabilidade nossa. Havia pessoas que já estavam a querer ir embora com os miúdos e até houve uma discussão um bocadinho mais feia com a organização. Quando estávamos para entrar com esse tal tema, o Gabriel, irritadíssimo porque quase tinha andado à porrada dois minutos antes, dá a melhor malha de saxofone de sempre e nós fomos atrás. Esse tema é dos temas mais pesados que temos e está no nosso primeiro álbum, que é o “Mandatory Eight Count”. Tem um nome associado ao boxe precisamente porque… Pronto [risos]. Portanto, muita da nossa música vem do momento e esse é um exemplo óptimo. Um gajo está irritado e muda tudo, muda o concerto.

Falavas há pouco do Gabriel não ter ido a um concerto porque tinha de ganhar dinheiro. Como é que uma banda destas sobrevive? Nós sabemos que o país real é muito pouco permeável a propostas mais ousadas, musicalmente falando. E, no entanto, vocês há bocado disseram que até tocaram bastante num determinado período. Eu imagino que não se forme uma banda como os Troll’s Toy para ficar rico, mas como é que uma banda destas sobrevive e consegue ter um percurso assim, já com três discos gravados em nome próprio mais um em projecto colaborativo e que até está neste momento em estúdio a pensar num próximo? Eu diria que não é o cachê do fim da noite que vos faz mover, mas digam-me vocês se é ou não.

[Jorge Loura] O cachê não é o que nos trouxe até aqui. Não pensámos nisso quando nos juntámos para tocar. Mas quando demos por ela até estávamos a ter cachês fixes. Não me cabe a mim… Eu não sou manager, nem um gajo dos negócios, mas eu acho que há duas coisas. Para já, a música ser diferenciada significa que não tem concorrência… É claro que há concorrência e há mais gente com bandas como nós, mas não estamos a concorrer com os Calema, com o Toy ou com as bandas pop. Por outro lado, se tu pagares 20 mil euros ao Toy, ele tem 50 técnicos, 20 músicos e bailarinos… Nós somos três mais um técnico de som. Portanto, nós podemos ter cachês muito mais modestos e mesmo assim ganhar bem.

Claro. Eu entendo. Mas no fundo, o que eu vos queria perguntar, obviamente, não é qual o cachê que vocês ganham ou se é por causa do dinheiro que vocês se mexem. Há propósitos diferentes que levam músicos a querer embarcar em determinados percursos sem ser aquela ideia de, necessariamente, ter sucesso para comprar o último modelo da BMW ou qualquer coisa desse género. Há um outro impulso que vos faz mexer?

[Gabriel Neves] Sinceridade na música que fazemos. Acho que temos, sei lá… O nosso objectivo é fazermos a música que nos vai na alma. Não temos ninguém a ditar as regras do jogo e isso, para nós, é muito importante.

[João Martins] Isto é como se fosse uma liderança tripartida. O que é engraçado aqui é que eu posso trazer uma ideia muito absurda para o ensaio, que eu sei que eles vão querer experimentar [risos]. Eles querem ver como fica. Depois pode ou não ser para um tema, pode ou não ficar no disco. Não interessa. Há essa abertura por parte de cada um de nós para sermos suficientemente exploratórios e trazermos tudo o que quisermos para experimentarmos nos ensaios ou nos concertos.

[Gabriel Neves] Nós queremos mostrar as coisas ao público. O público merece ouvir as nossas ideias absurdas [risos].

[Jorge Loura] E foi uma surpresa para nós… Indo à tua pergunta, nós não fizemos um plano quando começámos a banda. Como te disse, não há plano de negócio nenhum. Não esperávamos sequer ganhar um cachê que fosse. Isto foi: “Olha, vamos ver o que é que acontece.” A nossa surpresa, quando nós começámos a tocar, foi que começámos a fazer coisas completamente bizarras, que não faziam sentido totalmente nenhum para ninguém que não fôssemos nós. De repente, estamos a tocar e as pessoas estão ali uma hora a ouvir-nos, ficaram até ao fim, bateram palmas e vieram dizer-nos: “Gostei mesmo disto.” E não são músicos a dizer-nos isto. Não é um guitarrista que está no meio de público e diz que gostou de um determinado solo. São famílias, contabilistas, bancários… Eles vêm dizer-nos: “Eu adorei este concerto e quero comprar o disco.” Nós ficamos: “Espera. Achávamos que estávamos a fazer música estranha e afinal as pessoas gostam disto. Pronto. Ainda bem” [risos].

[Gabriel Neves] Nós, na verdade, precisávamos era de mais clubes no país para conseguir tocar, porque é um sítio espectacular para fazer concertos. Como o GrETUA, em Aveiro, que é inacreditável a nível cultural. Faltam mais salas assim no país. É muito difícil de encontrarmos sítios para tocar.

Vocês não encaixaram num circuito apenas, então? Ou seja, não são aquela banda que vive dos festivais de jazz apenas ou dos clubes underground de rock. Vocês circulam um bocadinho…. Vocês têm um passo que vos permite ultrapassar fronteiras, não é?

[Jorge Loura] É engraçado, porque nós, quando começámos, achámos que éramos uma banda de rock. Guitarra eléctrica, saxofone, bateria… Não nos víamos como uma banda de jazz. De repente, os nossos primeiros concertos foram quase todos em festivais de jazz. Eu percebo porquê: se é música instrumental, improvisada e tem um saxofonoe, é natural que as pessoas associem isso a jazz. Claro que sim. Mas na nossa cabeça não é jazz. Na nossa cabeça é música. Não é rock, não é clássico, sei lá… É isso.

Há uma banda de que eu gosto muito, uma banda inglesa, que tem uma instrumentação apenas ligeiramente diferente da vossa, no sentido de que eles têm um baixo eléctrico e vocês têm uma guitarra barítono. Essa banda chama-se Ill Considered e também são um power trio, com saxofone, baixo e bateria. Têm um power muito grande, com o saxofone a mandar tantos riffs quanto o baixo, e um groove muito pesado a sustentar aquilo que eles fazem. Eles também têm essa capacidade de se moverem por entre diferentes circuitos. Eu já os vi num clube de jazz em Londres e já os vi no Tremor, nos Açores, a tocar para um público que gosta de indie rock. Eu notei ali uns certos pontos de contacto com a vossa música e isso interessou-me bastante. Às tantas pensava: “Ainda não há nada em Portugal que soe a isto.” E de repente vocês já estavam a fazer este percurso desde 2017. Ou seja, até começam mais ou menos ao mesmo tempo dos Ill Considered e isso é uma coisa muito curiosa. Vocês conhecem a banda?

[Gabriel Neves] Não. Vamos investigar.

Eles, tal como vocês, também não costumam tocar composições. Os discos são todos improvisados e boa parte deles são captados ao vivo. Eles têm já uns 11 ou 12 álbuns gravados num curto espaço de tempo. Adoraria ver um double bill de Troll’s Toy e Ill Considered. Quem sabe se isso não acontece. Mas falem-me lá do que se anda a passar aí em estúdio. Quais os planos que têm para esta gravação?

[Gabriel Neves] Desta vez há plano.

E que estúdio é este em que vocês estão?

[João Martins] Este estúdio é a minha casa.

É onde?

[João Martins] É em Ovar. Eu chamo-lhe o Estúdio em Ninho, porque é o nome da casa — a casa chama-se Ninho. É aqui que eu passo as minhas horas quando não estou a dar aulas. É aqui que venho estudar, onde ensaiamos. Não é um espaço muito grande. O Jorge não está a usar amplificadores para gravar — ele usa pedaleira digital — e o Gabriel também usa pedaleira digital para gravar. Temos a bateria acústica e usamos uns painéis para tentar acomodar o saxofone.

Não há vizinhos a protestar? [Risos]

[João Martins] Eu não tenho vizinhos. Podemos fazer barulho até à hora que quisermos.

[Jorge Loura] E estamos debaixo da terra.

[João Martins] Tipo um bunker.

Então, e diziam-me vocês que desta vez há um plano para a gravação do disco.

[Jorge Loura] Há um plano, mas provavelmente vai correr mal [risos]. Foi uma ideia que… “E se em vez de fazermos um disco improvisado, fazemos uns temas só para ser diferente?” Um disco de canções, estruturadinhas, com overdubs ou o que for. Esse é o nosso plano. Se calhar, chegamos aqui à sala e fazemos um disco improvisado. Não sabemos.

Então as sessões ainda não começaram? Vão começar agora?

[Jorge Loura] Vamos começar agora. Já éramos para ter começado, mas entretanto meteu-se Palingenesis, tivemos de tratar de concertos… Há bocado não disse isso, mas o Palingenesis aconteceu porque o anterior programador do GrETUA, Bruno dos Reis, ligou-me um dia, no Verão, a dizer que queria um concerto dos Troll’s Toy antes de ir embora. Nós dissemos que não queríamos ir tocar sem nada de novo, o nosso álbum já era de 2021… Tínhamos esta gravação, então: “E se nós fizéssemos um disco?” Esse concerto foi a única razão para lançarmos o disco [risos].

É uma razão tão boa como outra qualquer. Vocês têm um concerto no dia 15 de Fevereiro. Já irão apresentar algum deste material semi-planeado?

[Jorge Loura] Era bom.

[João Martins] Seria positivo.

[Gabriel Neves] Acho que dois temas conseguimos. Pode acontecer.

[João Martins] Vamos tentar.

E é um projecto só com vocês os três? Vão existir alguns convidados?

[Jorge Loura] Acho que estás a perguntar por planos às pessoas erradas [risos]. Nós podemos estar aqui a fazer um tema e pensar: “Então e aquele nosso amigo que toca flauta?” Pode acontecer. Nós não planeamos isso.

[Gabriel Neves] Também acontece nos concertos nós nem levarmos alinhamentos. Connosco é sempre um bocado assim, um caos [risos]. Nós decidimos o que vamos fazer de momento a momento.

[Jorge Loura] Mesmo no disco, o próprio nome Palingenesis… Ouviste aqueles poemas que aparecem lá a certa algura?

Claro.

[Jorge Loura] Foi o João que se lembrou. Estávamos a meio da mistura do disco e ele: “E se arranjássemos alguém para declamar aqui um poema?” E nem sequer sabíamos qual seria o poema. Eu tinha feito aquele projecto há dois anos, com a Maria Inês, uma actriz, baseado num livro de poemas da Rosa Alice Branco. Tinha aquilo gravado porque pensámos, um dia, vender aquele espectáculo, eu e ela. Entretanto não aconteceu e eu fiquei com aquelas gravações. “Espera aí que eu tenho aqui uns poemas gravados.” Aquilo estava exactamente com o tamanho, a duração perfeita para o momento, com a intenção e a entoação certas.

O universo sabe o que faz. É o maior dos maestros!

[Jorge Loura] É verdade. Portanto a música não é nossa. É do universo [risos].


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