Não és propriamente uma cara nova no segmento dos podcasts. Seja enquanto autor ou espectador, que imagino que também o sejas pelo facto de saber que és uma pessoa que gosta de encontrar coisas que vão para além do óbvio. Como é que vês este segmento da indústria musical?
Bem, isto pode ser visto de vários ângulos. Se formos olhar bem, não há assim tantos podcasts ligados mais à indústria por cá — ou então sou eu que não tenho conhecimento deles — especificamente ao hip hop. Talvez menos de 10, não? Isso pode ser visto pela massificação do estilo, o que leva a que tenhas esse elemento em variados podcasts mais generalistas. Ou seja, mesmo sendo os podcasts uma forma de poderes ser mais “específico” e ires a um nível de detalhe maior, acho que os podcasts directamente ligados ao hip hop são mais escassos, sendo o hip hop assunto nos outros. Tens outro elemento ainda, que são os podcasts que são DJ sets, essencialmente. Mas se calhar já não se chamam podcasts [risos]. Para um DJ, esse formato é óptimo — claro que eu sou suspeito porque também tenho um.Tens referência de canais/programas que sigas mais religiosamente?
Sigo alguns com mais atenção, mas não muito religiosamente, o Building Better DJs dos Beat Junkies, o programa do Lefto… Mais no formato rádio, o White Market Podcast da Rute Correia, o Terminal 1 da Núria, mais uns quantos. Gosto muito também dos vídeos do Freddie Joachim e do JLit, estes mais focados nos aspectos técnicos da produção. Gosto muito do estilo de programa de rádio de autor, com alguém a falar das tracks.Como surge a parceria com a Rádio Ophelia para a tua nova rubrica? Já seguias a iniciativa deles?
Quando apareceram, chamaram-me logo a atenção, especialmente por serem de Almada. Eventualmente, cruzámo-nos e fui convidado para tocar numa festa deles, no terraço da rádio. Fui também convidado, juntamente com o Fabz, para participar num dos programas, o Pimp Talks, do Tiago Susano e do Mário Inocêncio, e foi incrível. As relações foram-se estreitando e eles têm uma equipa mesmo boa e estão a fazer coisas muito interessantes. A ideia do Tape Delay ser um programa em directo, e não algo que eu faria num estúdio em off, tornou logo tudo muito mais atraente. E é só natural trabalhar com a Ophelia nisto. 2800 é vida, não é?Pela descrição que lançaste no Facebook, fica a sensação que o podcast será também um espaço que abre uma janela para a discussão e partilha de informação, em que se fala das técnicas por detrás das estéticas. Em que consiste ao certo este Tape Delay?
Vamos começar pelas partes mais óbvias: o Tape Delay vai ser um programa de rádio de duas horas, em directo a parir da Radio Ophelia, às 22h00 da segunda quinta-feira de cada mês. Vai estrear no dia 14 de Novembro. Esse programa será depois disponibilizado no formato podcast no Mixcloud da rádio, acessível para toda a gente que o queira ouvir. Posto isto, o programa, para já, vai consistir em mostrar o que produtores pelo mundo todo têm feito a nível de beats de hip hop e seus derivados. Com frequência, terei produtores convidados para falar desse tal aspecto técnico que falavas: dissecar as técnicas, o workflow, métodos e caminhos para chegar a um resultado, que máquinas, que VSTs, que fontes usam. Essa ideia deriva da tal lacuna que acho que existe, pelo menos cá: se temos tantos produtores, tantos ouvintes, porque é que ainda não existe um programa que fale sobre beats? Daí a ideia de ser um programa e não um DJ Set como são os meus DarkSunnDays. Falta dar contexto aos beats, muitas vezes. Porque uma faixa instrumental não carrega uma mensagem tão explícita como uma faixa com voz, especialmente no rap. Então eu, como ouvinte, gostava de ouvir alguém a falar sobre isso. Rapidamente isso leva a um “mãos à obra e vamos tentar fazer isso acontecer”. E sendo isto uma conversa de ante-estreia, aproveito para deixar aqui uma ideia: produtores, têm beats que querem espalhar e mostrar? EPs, beat tapes, tracks soltas? Enviem para [email protected] com uma apresentação vossa e um link para a track ou tracks.DarkSunnDays [Novembro 2019]