Já falámos por cá dos novos discos de Panda Bear e Marquise, um músico norte-americano a residir no nosso país e uma banda portuguesa, respectivamente — podem ler de seguida as entrevistas em torno de Sinister Grift e Ela Caiu. Mas os projectos que sairam hoje com traços desta nossa portugalidade não se ficam por aqui, e em seguida destacamos mais uma mão-cheia de obras que retratam isso mesmo.
Tal como a chuva que se faz sentir lá fora, também os novos registos musicais têm “caído” nas plataformas digitais a um bom ritmo, havendo, por isso, muita matéria a reter em mais um final de semana recheado de lançamentos. São exemplo disso Valter Lobo (Melancólico Dançante), Mx & Norty (ECOS DO VAZIO), Thiago França (Bololô), Boldy James & Chuck Strangers (Token of Appreciation), Reason (I Love You Again), Shygirl (Club Shy Room 2), BANKS (Off With Her Head), Base Hollow (FREE THROW), Paris Texas (They Left Me With A Gun), DARKSIDE (Nothing), Yves Jarvis (All Cylinders), Everything Is Recorded (Richard Russell Is Temporary), Hope Tala (Hope Handwritten), Hana Vu (Movies), Kilbourne (If Not to Give a Fantasy), Takuya Kuroda (EVERYDAY), Desiigner (Be Me), Jim Jones (At The Church Steps), serpentwithfeet (GRIP SEQUEL), The Residents (Doctor Dark), NSG (The Big 6), Marie Davidson (City of Clowns), Saffron Bloom (Saffron Bloom), bdrmm (Microtonic) e Artemis (ARBORESQUE), todos eles com trabalhos acabados de estrear neste último dia de Fevereiro.
[Romeu Bairos] Romê das Fürnas
Romê das Fürnas é um mergulho sensorial na alma açoriana, onde Romeu Bairos costura o passado e o presente num tecido musical de sotaques, memórias e afectos. Não é um álbum sobre os Açores, mas um álbum açoriano até ao osso, onde o folclore não é museu, mas matéria viva, recriada entre cantigas tradicionais e novas composições que respiram o sal e a saudade das ilhas. Sob o olhar atento de B Fachada, que apadrinha e produz, Romeu canta como fala, dando peso às palavras e corpo às histórias de um povo. Entre os ecos de um cancioneiro que se reinventa e a pulsação contemporânea da sua voz, Romê das Fürnas não só resgata a tradição como a coloca em movimento — porque o caminho é sempre em frente.
[Agir] CCD – Chove Cá Dentro
CCD – Chove Cá Dentro é Agir no seu estado mais cru e atmosférico, um EP de R&B que se sente como um fim de tarde visto através do vidro embaciado pela pluviosidade. Entre melodias íntimas e produções delicadas de holympo e Bella Saint, o artista deixa-se levar por um registo mais puro e introspectivo, onde cada batida e cada palavra ecoam como gotas num silêncio reflexivo. “IMPASSE”, “PRIMAVERA” e “E SE FÔSSEMOS” formam um tríptico que joga com o fogo e a chuva, explorando contrastes entre desejo e distância, luz e sombra.
[Maria João] Abundância
Em plena expansão artística, Maria João faz de Abundância uma tapeçaria sonora tecida entre Lisboa e Maputo, onde a sua voz singular se entrelaça com electrónica etérea e ritmos ancestrais. Com a produção visionária de Luís Fernandes e a cumplicidade de João Farinha e André Nascimento, o álbum atravessa continentes e géneros, misturando jazz, world music e experimentação digital numa fusão vibrante e emotiva. Das percussões vivas da timbila às vozes comunais do coro TP50, passando pelas colaborações com Mucavele e Stewart Sukuma, Abundância é um mapa sonoro onde tradição e futuro dançam lado a lado, celebrando a música como um território sem fronteiras.
[Pierre Kwenders] Tears On The Dancefloor
Não é um disco de um artista português, mas tem muitos traços lusos pelo meio. Tears On The Dancefloor é um ritual de catarse onde Pierre Kwenders transforma a pista de dança num espaço de introspecção e libertação. Entre batidas pulsantes e melodias envolventes, esculpidas por algumas caras bem nossas conhecidas, como NegoO ou Vanyfox, o curta-duração mistura a electrónica global com ecos de rumba congolesa, R&B celestial e afro-house vibrante, criando um som que é tanto festa como lamento. A sua voz, por vezes sedutora, por vezes melancólica, guia-nos por histórias de amor, perda e redenção, enquanto os sintetizadores cintilantes e os ritmos hipnóticos nos fazem dançar com o coração apertado.
[Rui Reininho & Orquestra Jazz de Matosinhos] Rui Reininho & Orquestra Jazz de Matosinhos
Rui Reininho & Orquestra Jazz de Matosinhos é um encontro inesperado entre a ironia sofisticada de Rui Reininho e a exuberância orquestral da OJM, onde o jazz se veste de surrealismo e a palavra ganha novas dimensões musicais. Gravado ao vivo no CARA – Centro de Alto Rendimento Artístico, este registo transforma a big band de Matosinhos num organismo mutante, oscilando entre arranjos cinematográficos e explosões de improviso, enquanto a voz enigmática de Reininho vagueia entre o absurdo e a poesia. Depois de ontem estrearmos por cá o vídeo para a remistura de Alexandre Soares ao tema “NamasTea”, o longa-duração completo aterra hoje nas plataformas digitais, havendo ainda um par de prensagens em vinil (uma das versões é autografada e limitada a apenas 70 cópias) que já podem ser encomendadas através do Bandcamp.