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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Vado Más Ki Ás] “Rap Sujo”
A ascensão de Vado Más Ki Ás no panorama nacional fez-se a pulso e, diga-se, contra fortes probabilidades de não chegar onde chegou. Hoje bem pode ser um artista de alcance nacional, mas quem o viu dar os primeiros passos no rap não duvida da sua essência por muitas voltas que a sua carreira, agora, dê. E em “Rap Sujo” é o próprio MC do Bairro 6 de Maio quem vem esclarecer os ouvintes, com provocações dirigidas até aos seus pares: o que Vado expõe neste single é um descontentamento com os que, tendo percursos mais ou menos equivalentes ao seu, não mantêm o espírito colaborativo que as origens underground lhes deram. E esse espírito underground, irreverente, insurrecto, continua a caracterizar um rapper que tanta visibilidade deu ao rap cantado em crioulo.
[MÃOSD’PRATA] “nOIA”
Pouco mais reconhecemos além da voz de Tony Soprano nesta “nOIA”. Assinada em nome de MÃOSD’PRATA, é Azsha quem, porém, responde pelas próprias palavras, sob a alçada da Armário Records. E mais do que isto só um carimbo já visto, que nos chega para abrir qualquer carta endereçada pela editora independente. E o que de lá vier, ainda que invariavelmente improvável de se adivinhar, merecerá sempre um mergulho de olhos fechados, por muito inauditas que estas águas possam parecer. Com esta “nOIA”, em particular, a confirmar-nos todos esses prenúncios.
[RealPunch] “Só de Leve” feat. FaCto BSJ
É por meio da punchline que RealPunch mais vezes dá vazão aos seus versos — não fosse o seu nome artístico revelador dessa apetência. O que faz com que “Só de Leve”, tema que o junta a FaCto BSJ — cuja participação vai das rimas às batidas —, represente, na verdade, um contra-senso: a expressão que expressa ligeireza num feito vai de encontro ao próprio conteúdo que a suporta no single em questão. Designadamente, no que à carga pesada em matéria de barras diz respeito.
[Phoenix RDC] “Caos” feat. Nayr Faquirá
Temos acompanhado de perto o desenrolar do novelo de Último Rapper, título do próximo trabalho de Phoenix RDC. Entre as faixas desvendadas nos últimos meses, parece haver no sucessor de Cool Kid um pouco de tudo — do melhor ao menos cativante que já conhecemos do rapper da Vialonga — e, por isso, não podia faltar um tema dedicado aos assuntos do coração. Não necessariamente um tema de amor, porque a realidade espelhada em “Caos” nunca é assim tão simples. Casamentos simples e sem complicações só os artísticos, como é aqui caso de Phoenix RDC e Nayr Faquirá.
[Subtil] “EU&OMEUCOPO”
Num compromisso sério consigo próprio, Subtil continua a fazer-se valer da velha máxima de que mais vale sozinho do que mal acompanhado. Desta vez com o seu copo como confidente, o rapper algarvio saca mais uma faixa da manga que — apesar dos últimos lançamentos nos fazerem crer que há algo maior a caminho — nos chega com a vertigem de quem a escreveu, gravou e lançou na hora. Ter um copo como cúmplice, por vezes, ajuda.
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