Foi em 2021 que o projecto RAFEIRO foi apresentado, na altura como um disco de Stray totalmente produzido por Raez. Com o passar dos anos e a experiência de palco, o conceito alargou-se para uma banda — ou, melhor dizendo, um bando — que agora integra oficialmente o teclista Miguel Moura e o trompetista João Pedro Dias, da formação ao vivo.
É com este quarteto que RAFEIRO parte para o segundo disco. O primeiro single foi avançado há dias e tem por título “Medronho”, sendo uma colaboração com MALVA. A identidade do projecto mantém-se, mas também há caminho para explorar novos imaginários musicais. Como descreve o comunicado de imprensa, é uma “cantoria à volta da fogueira que parece talhada no rap alternativo e destilada em ritmos de saltimbanco e sons de conjuração”.
Como forma de assinalar o lançamento, o Rimas e Batidas colocou algumas perguntas aos RAFEIRO sobre o novo single e a nova composição do projecto.
RAFEIRO passou agora a ser oficialmente uma banda. Era algo inevitável tendo em conta os inputs do Miguel Moura e João Pedro Dias e o seu papel nas apresentações ao vivo? Como é que desenvolveram a ideia de fazer oficialmente um grupo?
[Stray] Foi algo que fomos descobrindo com o decorrer dos ensaios e das apresentações ao vivo, mas não só. Se nos sentíamos um grupo, seríamos um grupo. Mas, acima disso, está o facto de o conceito “RAFEIRO” se mostrar muito mais abrangente para nós… servindo para dar nome a algo que vínhamos a sentir ser determinante na nossa maneira de olhar para a vida. Começámos a ver o disco primordial como um momento de génese… cuja matéria poderíamos usar para montar uma forma de estar — ou, mais correctamente, de resistir. Com isto, o RAFEIRO passou a designar o bando que resiste através dele, com ele, ou em seu nome — e o resultado dessa resistência aparece muito sob a forma de música.
De que forma é que sentem que o Miguel e o João Pedro mexeram com o processo criativo e o som do projecto?
[Raez] Inicialmente, a entrada deles acontece para responder à necessidade que sentíamos de tornar o som ao vivo mais orgânico. Mas logo percebemos que o alinhamento deles com o RAFEIRO enquanto conceito era tão forte — e o entusiasmo do bando assim compreendido em tocar tão grande — que a sua marca teria que estar nos registos futuros. Hoje, as versões que consideramos definitivas dos temas do primeiro disco são as que acontecem ao vivo — transformadas e elevadas pelos contributos do Miguel e do João Pedro. Nos temas que estão em desenvolvimento, esse processo está a dar-se mais cedo. O esqueleto das músicas continua a partir de mim e do Stray, passando depois por eles. A segurança de ter dois virtuosos como eles ao nosso lado também nos tem dado vontade de pegar em instrumentos mais físicos e participar da festa ao vivo. Aliás, o nosso objectivo final é sermos capazes de tocar sem recorrer a electricidade, sem precisarmos de um palco, recorrendo apenas a instrumentos analógicos e às nossas vozes, convidando toda a gente a cantarolar connosco… Não será para já, mas a visão é essa.
Como nasce este single, “Medronho”? Qual foi o primeiro elemento que deu origem ao resto? Como tiveram a ideia de juntar a MALVA à receita e como foi o processo de colaboração?
[Stray] A “aguardente de medronho” é um elemento do imaginário do RAFEIRO que é mencionado na última faixa do disco original. Desde então que tinha planos para o explorar. O Raez avançou com uma composição e daí apareceu-me aquela ideia de letra e melodia que surge no início da música — mas sabia que precisaria de alguém com maior talento vocal do que eu para a fazer funcionar. Por essa altura, assisti a uma peça de teatro com muitos momentos musicais protagonizados pela MALVA e fiquei impressionado com o leque de expressão vocal dela. Sendo já apreciador do trabalho dela em redoma, decidi convidá-la a fazer um tema, partindo desses dois pedaços já existentes. Felizmente, ela aceitou. A partir daí desenvolvemos a letra e o resto da música muito naturalmente. Confesso que os meus versos na “Medronho” estão entre aqueles de que mais me orgulho até hoje — tinha acabado de lançar o meu primeiro livro de poesia [Se Tens Fósforos, enquanto Pedro de Queirós Tavares] e, ao voltar a escrever para música, senti-me com novas armas.
Para quando podemos esperar o segundo disco de RAFEIRO?
[Raez] Não almejamos nenhuma data. Só queremos continuar com a liberdade de fazer música e de tocar sem qualquer tipo de comprometimento. O segundo disco está em desenvolvimento e temos músicas que queremos mostrar antes do seu eventual lançamento, claro — talvez até ao vivo primeiro. Quanto a datas, só Nossa Senhora do Osso saberá responder.
Faixa-a-faixa: RAFEIRO de Stray explicado pelo próprio e por Raez