pub

Texto: ReB Team
Ilustração: Carlos Quitério
Publicado a: 28/01/2025

De YAKUZA a Miss Universo.

Os melhores álbuns nacionais de 2024

Texto: ReB Team
Ilustração: Carlos Quitério
Publicado a: 28/01/2025

É oficial. A música instrumental veio para ficar. O top 3 de melhores discos portugueses do ano transacto para o Rimas e Batidas é um reflexo disso mesmo, já que consiste em projectos nos quais a palavra é deixada de lado para dar prioridade ao infinito mundo de possibilidades da conjugação exclusiva entre ritmos, harmonias e melodias, que tanto podem direccionar-nos para a dança como para momentos de maior contemplação e imaginação.

Com 2 dos YAKUZA a ser o mais consensual dos trabalhos que foram a votos dentro da nossa redacção, reunimos aqui um total de 30 lançamentos de 2024 que são obrigatórios para o mapeamento dos momentos musicais mais importantes dos últimos meses. Há um top 10 organizado consoante a sua relevância e acompanhado com comentários por parte daqueles que compõem a plural visão da nossa publicação, mas o lote de escolhas alarga-se a mais 20 discos que não devem ser esquecidos por nada.


[YAKUZA] 2

É com o fundo tremor do baixo que se inicia a autêntica viagem ao desconhecido conduzida pelos YAKUZA em 2. E diga-se desde já que o título do sucessor de AILERON, álbum de estreia do projecto lisboeta de Afonso Serro (teclados, synths), Afta3000 (baixo) e Pedro Ferreira (guitarra) lançado em 2020, é o elemento menos imaginativo deste trabalho em que a liquidificação das fronteiras entre géneros é talvez o ingrediente principal.

É cada vez mais inegável que do lado mais cromado (Return to Forever, Weather Report, Herbie Hancock…) do jazz de fusão de finais dos anos 70 e arranque dos anos 80 chega alguma da principal inspiração de muito jazz que no presente ousa lançar-se no futuro através da implosão de dogmas e práticas. Os YAKUZA traduzem isso na perfeição num álbum em que a ideia de groove nunca se sobrepõe à experimentação com o tempo rítmico, como se deixa logo claro na faixa de abertura de 2, “Penha”, tema que funciona como uma espécie de manifesto ou guia que ajuda depois a descodificar o resto de um álbum em que o “exotismo” da música de livraria de editoras como KPM, Bruton ou Mp2000, o impulso eléctrico do rock, a riqueza harmónica exportada graciosamente do Brasil para o resto do universo, ou as síncopes apreendidas nas modernas pistas de dança fornecem estímulos de diferentes intensidades, quais choques eléctricos em corpo moribundo numa mesa de operações.

— Rui Miguel Abreu


[MAQUINA.] PRATA

PRATA não foi apenas um encore daquilo que MAQUINA. nos apresentou em DIRTY TRACKS FOR CLUBBING. Se o seu álbum de estreia conquistou o público pela novidade, o segundo revelou novas camadas na música da banda. “denial” e “body control” foram aperitivos para um conjunto de 6 malhas que, apesar de em linha com o que ouvimos no seu debut, o supera em vários aspetos. PRATA é dança, é clubbing, é four to the floor e é motorik, sem dúvida, mas é muito mais narrativo nos seus 36 minutos de duração — são canções com a sua própria dinâmica e imaginário. A paisagem é ainda mais sombria do que a do seu antecessor, e a maquinaria até pode rodar a menos RPMs por vezes, mas é talvez ainda mais eficiente a fazer mover os ouvintes. Para se criar velocidade, é preciso ir desacelerando, e os MAQUINA. fazem-no neste projeto de forma exímia.

— Francisco Galante


[Mazarin] Pendular

A música dos Mazarin e do seu inimitável Pendular viaja por um vasto e plural universo e pelos mais recônditos locais do espaço sonoro. Tanto podem incorporar jazz com música electrónica, como nos mostram em “Dallas” ou “Colours”, ou trazer o acordeão para a música africana polvilhada com trap, que se ouve na fenomenal “Caçadores”. Mas em todos os momentos impera a frescura das melodias conjuradas pelo quinteto, que segue uma cadência disciplinada com a força de uma supernova. Apesar de ser o seu álbum de estreia, ouvimo-los veteranos, cientes das suas valências e com um ouvido apurado. O pêndulo dos Mazarin oscila para um lado e para o outro mas volta sempre ao ponto inicial: virtuosismo instrumental aliado a uma curiosidade multifacetada.

— Miguel Santos


[Ana Lua Caiano] Vou Ficar Neste Quadrado

Vou Ficar Neste Quadrado é, por um lado, antitético. Apesar de muita da música de Ana Lua Caiano ser à base de loops, o seu álbum de estreia é tudo menos estático. Ouvimos sons que respiram, a tradicionalidade musical é fundida com uma electrónica cada vez mais madura e complexa. É um projecto com limites pouco definidos, pois está continuamente a cruzar novos mundos. Por outro lado, o título assenta-lhe perfeitamente. Caiano está cada vez mais proficiente no seu ambicioso quadrado, mantendo-se fiel a si mesma numa trajectória ascendente. Isso é evidente no frenesim paranóico de “O Bicho Anda Por Aí”, nos sussurros assombrados de “De Cabeça Colada ao Chão” ou no cativante ritual fúnebre de “Deixem O Morto Morrer”. Ouvimos experimentação em temas como a industrial “Que Belo Dia Para Sair” ou na possante “Os Meus Sapatos Não Tocam Nos Teus”, demonstrando que “tradicional” e “disruptivo” são dois conceitos que se opõem mas que encontram um lugar comum no brio musical de Ana Lua Caiano.

— Miguel Santos


[Silly] Miguela

Miguela foi das melhores surpresas que 2024, ainda em fase de promessas, nos trouxe. E em matéria de promessas e surpresas, Silly esteve sempre à altura: desde que timidamente se deu a conhecer em 2020, a certeza do seu talento assentou como denominador comum de todo o seu discreto desenvolvimento até à derradeira estreia. Cada vez mais desprendida na forma, é em Miguela que agora lhe vemos todo o seu corpo artístico presente — uma honestidade lírica desarmante aliada a uma sensibilidade melódica comovente, potenciadas pela entrada em cena de Fred, segunda cabeça responsável pela concepção de Miguela. Um trabalho a dois verdadeiramente autoral como poucos tem havido na nossa praça, que tem ganho contornos ainda mais especiais nas apresentações ao vivo. Um disco de 2024 com tempo de antena reservado para este ano e para tantos outros que ainda estão por vir.

— Paulo Pena


[Lana Gasparøtti] Dimensions

As muitas Dimensions que habitam a música de Lana Gasparøtti revelam-se em definitivo com o álbum de estreia editado em 2024. A base é, indubitavelmente, o jazz — tanto em termos estéticos como no espírito do improviso e da experimentação, essência da teclista e vocalista luso-croata. É um ponto de partida para uma viagem sem fim (nem limites) onde cabem estéticas electrónicas e batidas quebradas estilo hip hop, elementos digitais e orgânicos, música que tanto pode agitar o corpo como pedir contemplação. É um som fluido multidimensional, que se move sem fronteiras nem categorias, desbravando caminhos espaciais, futuristas e por vezes até psicadélicos. Como o próprio título sugere, a riqueza está nas múltiplas camadas, texturas e nuances com que a artista trabalha a sua infindável matéria-prima. Um exercício de liberdade sonora que é, em si mesmo, um dos melhores discos do ano; mas que também projecta um futuro promissor para a sua autora, que poderá muito bem figurar em muitas mais destas listas ao longo dos anos.

— Ricardo Farinha


[Plutonio] Carta de Alforria

Esta Carta de Alforria já está no forno pelo menos desde 2021, ano em que a antecipou subtilmente no videoclipe de Duas da Matina. Mas foi a reta final de 2024 que ditou a chegada do novo capítulo da profícua carreira de Plutonio, num projeto denso e ambicioso. Esta carta é daquelas que vale a pena espreitar, face à variedade musical que o rapper — ou melhor, músico — do Bairro da Cruz Vermelha aqui apresenta. Temos temas de trap, boom bap, drill (tudo familiar até aqui), mas Plutonio arrisca-se em sonoridades bem lusófonas, como o kizomba, funaná e kuduro. Apesar da versatilidade, há pouco verdadeiramente disruptivo, mas vale pela inovação e coragem do próprio artista em enveredar com sucesso por sonoridades novas. Já liricamente, temos um Plutonio bem adulto: Carta de Alforria é quase sinónimo de libertação e este trabalho estará conceptualmente direcionado para aí, com Plutonio a refletir e discutir questões sociais profundas e outros temas delicados do seu quotidiano com este disco. É uma fusão de sonoridades que elevam a fasquia já altíssima do rapper da Bridgetown, que nunca se limitou à esfera do rap e carimba aqui o projeto mais adulto da sua carreira.

— Carlos Almeida


[Branko] Soma

Tudo nasceu de duas assembleias sonoras convocadas por Branko, reunião de músicos num estúdio maior que o habitual. Diferentes nas linguagens e percursos, unia-os as malhas multicolores que têm construído a diversidade cultural de Lisboa. O resultado foi uma soma criada a partir de bases instrumentais desenhadas por Branko, a que os músicos deram cor e emoções, erguendo um corpo de canções depois enriquecidas com outras vozes e inquietações. Soma é o fruto desses encontros: um disco quente, cor de laranja, e consciente dos desafios do nosso tempo. Mais acompanhado que nunca, Branko cumpre o desafio de síntese, entregando um álbum onde o todo emerge da soma das partes. Um gesto artístico irresistível, que celebra o som de Lisboa, cruzando a sensibilidade das suas criações eletrónicas com texturas sonoras mais orgânicas, que tanto lembram o caminho aberto com os 1-UIK Project, como ampliam as possibilidades futuras de um dos mais importantes criadores da música portuguesa contemporânea.

— João Mineiro


[Nídia & Valentina] Estradas

Nídia não se cansa de expandir as paisagens sonoras em que vem investindo, nutridas de múltiplas pulsões rítmicas e emocionais. Nas suas viagens por novos caminhos encontrou Valentina Magaletti, mente de férteis explorações sonoras, onde o ritmo guia o potencial narrativo da música. Estradas surge desse ponto de intersecção, onde polirritmias mutantes, síncopes hipnóticas e linhas de marimba inebriantes se entrelaçam com pulsantes texturas eletrónicas, ora mais sombrias, ora mais lascivas, conectadas por arranjos harmónicos de uma cuidadosa inventividade. Congas, bongós e sintetizadores balançam em temas que habitam simultaneamente o corpo e a memória através de percussões narrativas que buscam o inexplorado. Dessa pulsação nasce música que não se reduz a um estilo, sensibilidade ou estrutura rítmica, centrando-se antes em vibrações partilhadas que sugerem uma liberdade radical, sem que nunca se perca o controlo. Por estas estradas vale a pena a viajar.

— João Mineiro


[Wugori & Pedra] Raio de Luz

Do kuduro ao drum and bass, Wugori vai a todas quando o propósito é fazer música. Mas é no hip hop que este versátil artista da Amadora mais se tem destacado, pela forma casual e despreocupada com que larga as suas rimas, mesmo quando estas relatam episódios mais taciturnos do seu processo de crescimento, a fazer lembrar a aura de um Earl Sweatshirt quando tudo à sua volta era uma shit. Raio de Luz é mais uma breve e sempre preciosa colectânea de lágrimas cristalizadas em versos por parte do rapper e produtor, que aqui se foca apenas nas palavras e delega a concepção dos instrumentais a Pedra, pintor de belos e melancólicos cenários boom bap sem batida demasiado vincada. É olhar para dentro e expurgar sob a forma de arte, tornando bonito o que à partida era tempestuoso.

— Gonçalo Oliveira


[Fogo Fogo] Nha Rikeza

[Cara de Espelho] Cara de Espelho

[Mura & Stereossauro] ADAMAS

[Nuno Beats] Sai do Coração

[Bia Maria] Qualquer Um Pode Cantar

[Il-Brutto] FUSCO

[DJ Nigga Fox] Chá Preto

[MORIA] É FDD.

[zé menos & Pedro, o Mau] quatro partos

[Fidju Kitxora] Racodja

[Club Makumba] Sulitânia Beat

[DJ Lycox] Guetto Star

[HHY & The Macumbas] Bom Sangue Mau

[Maria Reis] Suspiro…

[Benny Broker] Alpacavalagarta

[nastyfactor] A Beleza das Coisas Feias

[JÜRA] sortaminha

[Capital da Bulgária] contei e deixei que tu me julgasses

[Chek1] SINAIS

[Miss Universo] Manifesto do Jovem Moderno

pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos