O FESTA – Sons da Lusofonia volta a acontecer em Ovar este fim-de-semana, 12 e 13 de Julho, com uma programação diversa muito centrada na lusofonia e com espectáculos especiais (alguns dos quais irrepetíveis) que se desenrolam ao longo de dois dias.
Para antecipar o evento, o Rimas e Batidas colocou algumas perguntas a José Licínio Pimenta, Chefe da Divisão da Cultura da Câmara Municipal de Ovar e responsável pela programação. O cartaz completo do FESTA pode ser consultado na página oficial da autarquia e inclui uma série de conversas conduzidas pelo director da nossa revista digital, Rui Miguel Abreu.
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Quando se pensa numa programação lusófona e diversa, quais são os critérios a ter em conta na programação de artistas para um evento como o FESTA – Sons da Lusofonia em Ovar?
A programação do FESTA, desde 2022, estabilizado o modelo de organização, é um exercício de reflexão, partilha e discussão em equipa. O espírito que se pretende promover e dinamizar nos dias do evento tem de ser sentido e vivido, em primeiro lugar, por quem programa, produz e organiza. Temos um cenário natural que consideramos singular e que nos permite criar um ambiente festivo com características muito especiais, onde natureza, pessoas e lusofonia geram uma simbiose perfeita e multicultural. Esta é a identidade do FESTA. A selecção dos projectos que convidamos obedece a critérios de qualidade artística, expressão da cultura lusófona em diferentes estilos musicais, de diferentes países, tradições, ritmos e sonoridades. Há ainda uma dinâmica que se pretende induzir ao longo de cada um dos dias, do início ao fim, e na articulação dos três palcos.
O FESTA tem promovido projectos como residências artísticas, envolvendo a comunidade local. Este ano o destaque vai para a colaboração entre Sopa de Pedra e Canto Décimo. Qual é a importância deste tipo de iniciativas que são únicas para um evento e que envolvem a comunidade local?
A aposta em parcerias, no envolvimento e participação da comunidade em projectos artísticos, é estratégica para a Câmara Municipal de Ovar, e acontece ao longo de todo o ano na programação cultural, pelo que o FESTA, enquanto evento-âncora do portfólio municipal, assume e materializa essa vontade e dinâmica. Mais do que um momento único e especial de programação, fica a experiência do trabalho conjunto, especialmente nos actores/agentes locais, que perdurará muito além do FESTA. O tempo de preparação e ensaio, o contacto próximo com artistas profissionais de elevado valor artístico e especial sensibilidade e cuidado neste tipo de trabalho são marcas dos projectos que temos promovido no FESTA, com sucesso. Este ano, com Sopa de Pedra e Canto Décimo, vamos ter mais um momento único de música e convívio no Parque Urbano.
É fulcral que um evento como este não só seja um palco mas também possa agir enquanto instigador cultural, que promova projectos concretos?
O FESTA é, sobretudo, isso, um instigador cultural, quer para os artistas, quer para o público. Cada concerto, cada actividade/acção promovida e desenvolvida no âmbito do FESTA tem de ser especial. Um concerto no FESTA é um acontecimento único e irrepetível! Não há espaço igual nem ambiente similar. Por isso, recusamos o rótulo “festival”, hoje banalizado pela quantidade e diversidade de oferta. O FESTA é um encontro de pessoas, músicos, artistas, técnicos e outros agentes, que se juntam para celebrar a vida, em ambiente de confraternização, onde a lusofonia é o elo de ligação. Há já muita gente que vem ao FESTA pelo conceito e experiência, independentemente dos nomes do cartaz. Como temos, também, cada vez mais projectos e artistas a querer participar no FESTA, pelas mesmas razões.
Um dos espectáculos mais esperados será certamente Lá no Xepangara. É essencial procurar as pontes entre os diversos países de expressão portuguesa, neste caso celebrando também o legado do 25 de Abril e a obra de José Afonso, influenciado pela música e cultura africana?
No ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril de 1974, faz-nos todo o sentido que o FESTA, enquanto espaço de liberdade, inclua na sua programação projectos com esse carisma e propósito. Lá no Xepangara é um projecto muito interessante e que conjuga as duas dimensões, plenas de oportunidade: o tributo à obra de José Afonso protagonizado por artistas de diferentes origens geográficas — Portugal, Moçambique, Brasil, Guiné-Bissau —, culturais e musicais. Enaltece-se, assim, a sua actualidade e universalidade. É a homenagem lusófona a José Afonso e agrega ainda uma acção educativa a realizar com o público escolar, em Novembro, no âmbito do EIXO | Programa Municipal de Aprendizagem Criativa e Mediação de Públicos. A partir da obra de José Afonso, exemplo paradigmático do papel determinante da arte e da cultura na revolução do 25 de Abril, o projecto tem como principal objectivo a aproximação da comunidade lusófona e dos jovens a uma personalidade incontornável na luta pela democracia em Portugal.
E qual a importância de projectos como o Mais Alto!, que junta diversos músicos, com um repertório alargado e que ultrapassa fronteiras? É aí que está a verdadeira celebração lusófona?
O projecto Mais Alto! enquadra-se perfeitamente no espírito do FESTA, enquanto evento para famílias, intergeracional. É um concerto comentado que convida os mais jovens a reflectir sobre o poder da música nas mudanças políticas e sociais. Ao longo do espectáculo, o repertório de versões de canções portuguesas, brasileiras e de outras partes do mundo é intercalado com breves comentários que procuram enquadrá-las, explicando o contexto em que cada uma foi criada, bem como as preocupações e reivindicações que reflectem. É, de facto, a verdadeira celebração lusófona.
A propósito do Dar à Língua, qual é a importância de, além da música e da performance, haver espaço para o diálogo — e para o registo desses diálogos — num evento como este?
Mais uma vez, pretende-se que o FESTA não se esgote nos concertos. Promove-se e cultiva-se um ambiente de diálogo, partilha e interacção entre todos os participantes, incluindo o público. O Dar à Língua é mais uma iniciativa que acrescenta valor ao FESTA, fomenta o sentimento de pertença ao evento, reforça os laços que nos ligam à língua, à música e à cultura lusófonas. É esta presença viva que se pretende partilhar e registar, criando, também, memórias colectivas. O contexto do FESTA permite-nos criar, gerir e guardar estes momentos de informalidade organizada, de partilha de emoções e pensamentos.
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