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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/04/2025

Igual a um bom vinho.

O baile de Di Melo na comemoração dos 50 anos do seu clássico homônimo

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/04/2025

“É pra se emocionar, é pra se entregar, é pra curtir”.  Foi assim que a cantora, modelo e atriz Gabi Di Abade introduziu ao palco do Sesc Pompeia, em São Paulo, o seu pai: Di Melo. A noite de sexta-feira, 11 de abril, estava amena, com o ar frio do Outono. Mas quem entrou pelas grandes portas de madeira da antiga fábrica de tambores, que hoje abriga a comedoria do Sesc, teve que se desfazer de blusas e casacos assim que a banda introduziu “Kilariô”. Com o galpão lotado, nem mesmo o ar-condicionado e ventiladores deram conta do fervor gerado pelo calor humano. A resposta ao pedido de Gabi foi imediata. Não tinha como ficar indiferente ao suingue de um dos grandes clássicos da música brasileira, que em 2025 completa 50 anos. 

A voz de Di Melo não é mais a mesma de 1975, quando seu álbum homônimo ganhou as prateleiras das lojas de discos, porém, o estilo, a irreverência e a malemolência dele permanecem intactas. Auxiliado por seu inseparável leque, o cantor tenta se refrescar. O sorriso estampa seu rosto, sempre. Ele não dança. Deixa essa missão para sua filha, também o guia vocal, e as companheiras do coro Sthé Araujo e Anaîs Silla, e para os presentes, que aproveitaram cada segundo das quase 2 horas de concerto. 

Para reproduzir canções que fizeram — fazem e farão — parte da vida de diferentes gerações, sendo reproduzidas por DJs, sampleadas e até pirateadas ao redor do mundo, Di Melo selecionou um time tarimbado com Carlos Gadelha (guitarra), Filipe Gomes (bateria), Rubinho Lima (percussão), Rafael Aragão (baixo), Lucas Coimbra (teclados), Palloma Lima (trompete e flugel), Victor Fão (trompete) e Adriano de Lima (saxofone e flauta). A responsabilidade não era a das mais fáceis. Mas eles e elas, todos vestidos de vermelho e preto, seguraram a onda. Mantiveram o groove contagioso das versões originais, e elevaram a cadência das que tinham uma certa densidade. Assim, o baile se manteve quente do começo ao fim. Os arranjos de “Conformópolis” e “Ma-Lida” surpreenderam. Elas ganharam outros direcionamentos sem perderem a essência. Os metais literalmente brilharam. Destaque para os solos de Palloma Lima. 

Diferente do que se esperava (ao menos eu), a ordem não foi a mesma do disco. Essa “aleatoreidade” deixou o fluxo interessante, ainda mais com a inclusão de “Tá Tudo Aí”, “A.E.I.O.U”, “Capoeira/Cocô Verde” e “Rational Culture”, interpretada por Leo Maia (filho de Tim Maia), que também participou de “A Vida Em Seus Métodos Diz Calma”. No intervalo de uma para outra, Di Melo — que também é poeta e pintor — declamava um dos poemas que escreveu. “Na vida o importante é amar e ser amado”, repetiu algumas vezes, assim como a sua gratidão e felicidade por receber todos na comemoração do seu aniversário. A festa rendeu, perto do fim do espetáculo, até um “parabéns pra você, nesta data querida”. Mesmo tendo que encerrar por causa do horário, a vontade dele era estender um pouco mais. Timidamente, alguns começaram a pedir mais uma achando que tinha terminado depois de “Alma Gêmea”, inclusive com ele tocando violão. Mas a última seria novamente a cultuada “Kilariô”.

É incrível acompanhar a vivacidade de Di Melo e sua obra. Passadas 5 décadas, ambos permanecem relevantes. “Envelheceram” bem, igual o vinho. Continuam joviais, elegantes, refinados e interessantes. Tipo aquele jovem senhor que todos gostam de sentar-se para ouvir falar sobre as questões da vida. O mais interessante ainda é que o projeto não teve o reconhecimento devido quando lançado. Por causa disso, o seu autor abandonou o barco, ficou no ostracismo e foi “decretado” morto. Mas o “imorrível” permanece mais vivo do que nunca. Como o próprio costuma dizer, “Jacaré que não batalha vira bolsa de madame ou sapato de burguês”.


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