Com o título Tudo ao Contrário, Mura apresentou nos últimos dias uma mixtape que reúne uma dezena de faixas soltas, rimando por cima de beats internacionais, produções suas ou de colaboradores como Catalão. Em modo contra-corrente, o rapper de Almada não promoveu o lançamento nem criou qualquer burburinho em torno do projecto.
Acima de tudo, vê-o como um exercício criativo, como uma “side quest” que o ajuda a evoluir ao sair da sua zona de conforto. Trata-se de uma linha paralela de trabalhos, que poderá vir a ter diversos volumes, e que não implicam um comprometimento tão grande como um álbum. Em declarações ao Rimas e Batidas, desvenda o que o levou a fazer Tudo ao Contrário.
O que é que dirias que une os temas desta mixtape, Tudo ao Contrário? Ou é precisamente por não haver propriamente um grande fio condutor, serem mais barras soltas, que faz sentido estarem numa mixtape?
Na verdade, quando comecei a mixtape, tinha muito mais beats da net e a intenção era mesmo essa, ser “um pouco mais solto”, mas devido a alguns percalços da vida, quando já estava assim numa recta final deste volume, tive a infeliz notícia de que o meu disco rígido se tinha estragado… Sem backups. Como nessa altura comecei a produzir mais, decidi então dar uma nova roupagem ao projecto, acho que fez mais sentido na minha cabeça… Assim também acabo por mostrar outra faceta que até à data ainda não tinha dado grandes provas. Isto para dizer que, ao ter dado esta nova roupagem, acabou por ter o seu fio condutor. Acho que todos os projectos sobre os quais me debruço têm de fazer o mínimo sentido na minha cabeça, por mais descomprometido que seja.
Há alguma razão ou história para teres escolhido este título, Tudo ao Contrário?
Foi quase uma chamada de atenção para eu não me esquecer do “porquê” de fazer música. Para mim, significa o facto de andarmos numa altura onde tudo é tão saturado e, com isso, vejo uma nova tendência em ser famoso e não em ser músico. Então, decidi fazer tudo ao contrário do que toda a gente faz. Não chatear ninguém para ouvir a minha música, não mandar press releases sobre este projecto… Pura e simplesmente meter nos sítios que tenho a meter e deixar que a música fale por si. Tive de voltar a este modus operandi mesmo para ir buscar alguma inspiração na imperfeição. Daí nasceu o Tudo ao Contrário.
A ideia é haver vários volumes?
Sim, a ideia é fazer alguns volumes, mas não é algo que queira esticar muito, na verdade. No máximo irei fazer uma trilogia, acho que toda a boa história não chega só com um filme!
Nesta fase em que as mixtapes são menos comuns, o que é que te agrada no formato? Tem a ver com os instrumentais, com rimares de forma mais descomprometida sem ser preciso ser um álbum tão conceptual ou tão limado?
Sim, não tenho pressão alguma nisto, acaba por ser quase como um brinde à cultura e para não ficar tão adormecida. Sei que não sou a última bolacha do pacote, mas se fizer uma diferença já dá para ir segurando os pilares desta cultura e não deixar que ela desapareça. Um álbum vejo mais como um processo demorado, muito mais bem pensado, estruturado, muito mais trabalhado e a estratégia seria totalmente diferente. Pelo menos vejo-os assim, acabam até por ser o cartão de cidadão de cada artista. Estes projectos são os side quests que eu, enquanto rapper, tenho de traçar e conquistar para crescer enquanto artista. Ajudam-me bastante a sair da minha zona de conforto, sem dúvida.