pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/11/2020

Uma homenagem à electrónica rudimentar.

Metamorfiko sobre Fork Bites: “Sei que estou a fazer beats duma forma mais progressiva, sem padrões nem loops em mente”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/11/2020

Fork Bites é o prato principal da ementa de hoje. O novo trabalho assinado pelo colectivo COLÓNIA CALÚNIA leva Metamorfiko ao leme de um navio que atravessa samples arcaicos, sintetizadores digitais e desafia as leis físicas do som.

Depois de 6.1 (com Ori, Kara, Osiris, Xek, Necxo e Sentinela), Bollycaos, Crushing Clouds, Butter Files, EYELASHES GONE e [caixa] (ao lado de Secta), Rui Caires chega finalmente àquele que considera o seu primeiro álbum em nome próprio com este Fork Bites, dando seguimento a uma trajectória que tem pautado pela ousadia em arriscar fazer hip hop e música electrónica desprendida de ideias e planos pré-concebidos. Sonja, DJ e fundadora da LABAREDA, é a responsável pela capa do LP.

Trocámos algumas impressões com Metamorfiko acerca dos conceitos e metodologias aplicados neste seu novo registo.



Começa por nos explicar a ideia por detrás deste título: porquê Fork Bites?

Um dia estava a comer esganado de fome e mordi o garfo sem querer, é uma sensação estranha, não estás à espera daquilo. Eu peguei nessa ideia e transportei para a música, teres aquela fome de fazer coisas novas e arriscar e tentares algo que seja estranho mas que no fundo faz-te ficar saciado pela descoberta em si.

Que sonoridades e ritmos procuraste explorar neste disco?

Este álbum é quase uma homenagem de certa forma à música electrónica na sua forma inicial mais pura, onde tudo era feito com recurso a tapes e modificado à maneira de cada tornando cada pedaço de som noutro único e próprio, foi essa música feita nos anos 60 e 70 que deu origem ao que hoje consideramos como música electrónica, as máquinas e os sintetizadores. O que mais gosto nesses registos antigos é a autenticidade dos sons e a abordagem, criaram-se obras que são tão únicas que parecem futuristas para os dias de hoje e no entanto têm décadas. O que eu fiz no álbum foi ir buscar esses samples e misturá-los com sintetizadores de hoje em dia.

Comparativamente ao que já tinhas feito na [caixa] e no EYELASHES GONE, em que difere a tua abordagem no Fork Bites?

A minha cronologia de lançamentos nada tem a ver com a altura em que fiz os projetos. Este álbum foi feito antes desses dois. Eu fiz os beats para a [caixa] e quando estava tudo fechado fiz o EYELASHES GONE, que acabou até por sair primeiro. Na [caixa] eu estava a fazer beats com o objetivo do Secta rimar neles, portanto por aí já é uma construção diferente e pensada no final a dois. No EP [EYELASHES GONE] o estado mental é parecido ao Fork Bites porque sei que estou a fazer beats duma forma mais progressiva, sem padrões nem loops em mente, onde tudo pode ser desconstruído ao máximo. Outra diferença é no ritmo, o álbum tem um ritmo mais acelerado em parte porque eu queria experimentar algo que não fosse diretamente relacionado com um beat de rap, mas que ao mesmo tempo tem a mesma origem.

Falando no lado mais técnico, que tipo de processos e ferramentas (físicas ou digitais) é que percorreste para chegar a este som?

Estes beats ainda foram feitos no Fruity Loops, agora uso o Ableton. Quando fiz nem tinha teclado nem nada. Mesmo hoje uso pouco ou nada, consigo fazer praticamente tudo com o computador só, produção e mistura.

Este é ainda o teu primeiro álbum a solo. É um marco que já procuravas alcançar há algum tempo? Que significado tem para ti ter este projecto na rua?

Acho que faz sentido lançar o álbum agora. Uma vez que já lancei o EP e um projeto colaborativo, faz sentido ser só eu neste momento. Eu gosto do conceito de álbum, não é de todo uma coletânea de beats que fiz e juntei, há uma linha a seguir e sinto que isso se perdeu um pouco hoje em dia, só se pensa nos singles e depois logo se vê. Eu gosto de ir criando uma ideia e finalizá-la e este projeto serve como a minha primeira longa metragem a solo.

2020 está a ser, de longe, o ano mais surreal de que temos memória e tu, além da música, tens-te expressado também através da fotografia. Como é a vida de um criativo numa época destas? Alguma coisa mudou na forma ou no ritmo com que trabalhas?

Está a ser um ano de altos e baixos em termos criativos. Tenho sempre ideias para coisas mas levo muito tempo a concretizar tudo e a delinear como quero fazer. A quarentena “obrigou-me” quase a produzir mais porque quase não saía, não podia ir onde queria pra tirar fotos, então tentei produzir ao máximo mas sempre com altos e baixos. Mas deu alguns frutos que irão ver a luz do dia.


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos