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Ilustração: Direitos Reservados
Publicado a: 10/06/2019

Sam The Kid é o primeiro convidado do radialista no regresso à rádio.

José Mariño sobre A Teoria da Evolução: “A minha ideia é chegar a todas as gerações e ouvir todas as gerações”

Ilustração: Direitos Reservados
Publicado a: 10/06/2019

José Mariño está de volta à rádio: A Teoria da Evolução estreia hoje, depois da meia-noite, na Antena 1. Sam The Kid vai estar com o radialista nos três primeiros episódios para, diz o autor, “ouvir algumas das maquetas que o Samuel enviou para o Repto, desde ’96 até à altura em que chegou o Entre(tanto)“.

Nome incontornável no hip hop nacional, Mariño começou no Correio da Manhã Rádio, passou pela Rádio Energia e foi na Antena 3, onde, mais tarde, assumiu o papel de director-adjunto, que imortalizou o seu nome na história das rimas e batidas feitas em território português através do programa Repto.

Antes do episódio inaugural, o Rimas e Batidas conversou com o homem que recentemente deu voz à parte final de “Memorabília”, faixa de Classe Crua, álbum de estreia de Beware Jack & Sam The Kid.



Como é que surge a oportunidade de voltar à rádio com este programa?

O segredo é a alma do negócio… Esta era uma ideia que já tinha há muito tempo e que queria desenvolver, na rádio ou noutros dos meios que hoje temos ao nosso dispor. A rádio surgiu primeiro, com a “benção” do meu (várias vezes) ex-director Rui Pêgo, a quem agradeço a oportunidade. E que saudades que tinha de fazer rádio…No futuro, próximo espero eu, gostava de chegar, com a devida desenvoltura, a outras plataformas. Sem querer parecer gabarolas acho que tenho bem guardados pedaços muito importantes da história da música em Portugal, rap bem entendido, e que esse material não deve ficar nas caixas onde permaneceu ao longo destes anos. Quando mudei de poiso, resolvi comprar um deck e um dat para poder voltar a dar vida a esses momentos.

O regresso só faria sentido com o Sam The Kid como primeiro convidado? O Samuel tem feito questão de manter presente o nome José Mariño nas suas músicas e projectos.

É com muito orgulho e emoção, e não estou a ser lamechas, que oiço e sinto as referências que o Samuel me faz. Vindo de quem vem, e o Sam é mesmo assim, é algo que me comove e que me deixa uma sensação de missão cumprida pelo trabalho, ou parte dele, que fiz na rádio. Quanto ao meu regresso só fazer sentido com o Sam The Kid como convidado é algo que eu nem sequer perco tempo a pensar. Para mim faz todo o sentido. É perfeito e natural. E tratando-se de um programa que vai ao passado, às maquetes, tem lógica começar por ouvir alguém que me marcou nesse capítulo e que ainda por cima celebrou a sua primeira vez na Antena 3, no Repto, a meio de uma bela “Retrospectiva De Um Amor Profundo”. E se outras razões faltassem, o Sam The Kid é sempre um óptimo convidado. Era obrigatório ouvi-lo n’A Teoria da Evolução e acho que o programa tem tudo a ganhar em tê-lo como padrinho da estreia. É alguém que muito admiro e com quem tive a sorte de me cruzar. Genuíno, tenaz e muito bom no que faz. Ele vai estar comigo nos três primeiros programas. Vamos ouvir algumas das maquetas que o Samuel enviou para o Repto, desde ’96 até à altura em que chegou o Entre(tanto). Infelizmente vamos ouvir uma pequena parte do espólio porque o programa tem 45/47 minutos de duração e o tempo que vamos dedicar à conversa é semelhante ao que dedicaremos a ouvir música.

E o que é isto d’A Teoria da Evolução? A ideia é traçar um retrato do hip hop nacional com intervenientes de todas as gerações, da mais antiga à mais recente?

A ideia é viajar entre o passado e o presente, e vice-versa. Sem esquecer o que está para vir. E traçar, não só um retrato, mas vários, consoante as objectivas de quem vai sentar-se à conversa comigo e da música que vamos ouvir. Partilhar experiências e diferentes vivências, identificar momentos, viragens e histórias que fazem parte da história do rap em Portugal.

Tendo em conta a tua importância para o início do hip hop português, como é que olhas para o panorama actual? 

Tenho que olhar em muito mais direcções. O que nos anos 90 era quase marginal, alternativo, que começava a dar os primeiros passos, transformou-se ao longo dos anos em corrente dominante ocupando até uma fatia muito respeitável daquilo que é considerado o mainstream, hoje completamente plurifacetado.

Existem nomes da nova geração de rap nacional que te enchem particularmente as medidas?

Vou ser sincero, tenho estado menos sintonizado, mas pelo que vou vendo e ouvindo valor não falta. Vou estar muito mais atento agora, não poderia ser de outra forma ou o programa não faria sentido. A minha ideia é chegar a todas as gerações e ouvir todas as gerações. Os tempos são outros, mais velozes, 5G, as sonoridades mudaram, diversificaram-se. O talento, esse, continua bem presente nas mais diversas formas. Não é que esteja em todo o lado. Nunca esteve, nem nunca estará. Tal como acontecia no Repto não vou cingir-me apenas a quem me enche as medidas. Tenho que ir além do meu gosto e tentar ser o mais imparcial e objectivo possível nas escolhas que faça.

Já existem mais convidados que se possam desvendar?

Volto a dizer que o segredo é a alma do negócio, mas tenho uma lista, já, bem grande. E que, espero eu, não pare de aumentar. Não será difícil adivinhar boa parte dos nomes, pois são incontornáveis. Haja espaço no éter, que é como quem diz, que o programa dure e não faltarão convidados.

Numa altura em que a oferta é muito maior do que quando fazia o Repto, por exemplo, qual é que pretende que seja o papel deste programa?

Como disse há pouco, os tempos são outros. Tentar fazer o Repto hoje seria impensável e infrutífero. Hoje, e ainda bem, os artistas têm outras formas de chegar ao seu público. Formas mais directas e democráticas, se quiseres. O que eu espero é que A Teoria da Evolução possa ajudar a enquadrar o rap em Portugal, partilhar histórias, música e momentos diferentes, que sirva pistas para entender melhor como aqui chegámos e, também, para onde podemos ir.

Vai para o ar na Antena 1, algo que também se pode ver como uma espécie de conquista para o rap nacional. Concordas? Este momento era algo impensável há 25 anos?

É uma conquista, sim. De todos os que contribuíram para o movimento ao longo dos anos. Dos mais velhos aos mais novos. E que ganharam, por direito próprio, o espaço que lhes era devido. Com mais dificuldades nos primeiros tempos, com outras, não menos complicadas, nos dias que correm. Cada vez mais depressa. A Antena 1 é uma rádio pública, que tem a música portuguesa no seu ADN. Musicalmente, mudou também nos últimos anos. Rejuvenesceu, em parte, digo eu. Mas, como sempre, cobre um largo espectro de correntes. Porque não dedicar uma hora ao rap nacional? Não é, seguramente, por favor que lá chega.


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