Em Sem Tempo (2020), a dado ponto na malha “Só Se For P’ra Alguém”, Janeiro cantava que só queria era dançar. Conscientemente ou inconscientemente, o autor de Fragmentos (2018) lançava para o ar as sementes daquilo que seria o seu próximo longa-duração: FUGACIDADE.
Lançado no início de setembro, FUGACIDADE vê Henrique Janeiro reencontrar-se com o Janeiro que apareceu há quase dez anos com o seu EP de estreia homónimo. É um disco construído em torno de momentos mais eletrónicos e dançáveis do que aqueles que anteriormente foram demonstrados nos trabalhos de longa-duração a solo do compositor e músico nascido em Coimbra, misturados com uma mestria técnica e ouvido por melodia que transformam FUGACIDADE numa das maiores surpresas do universo musical nacional de 2024.
Este sábado (19 de Outubro), Janeiro e a sua banda transportam o ambiente de festa de FUGACIDADE para o palco do Capitólio, em Lisboa, para a segunda data de apresentação do terceiro LP a solo de Henrique. Entre o seu passado e o seu futuro aguardado, Janeiro reconecta-se, em FUGACIDADE, consigo e com aquilo que o rodeia para erguer um novo presente, o seu presente. A conversa do compositor com o Rimas e Batidas começou por aí.
No Sem Tempo, o teu álbum anterior, apresentaste um disco em que te tentaste reencontrar não só artisticamente, mas também espiritualmente. Acho que este FUGACIDADE continua esse caminho. De que forma esse teu lado espiritual aparece neste teu novo trabalho?
O FUGACIDADE contém uma narrativa de descoberta interna. Este é um processo interno muito longo de um encontro comigo próprio, que vem de um lugar mais escuro. No Sem Tempo, eu comecei esse processo porque, depois de fazer o Fragmentos, comecei um processo de meditação onde me conectei com a natureza e comigo próprio. Quando nos conectamos com a natureza, estamos a conectarmo-nos com nós próprios, no fundo. O Sem Tempo já tinha essa narrativa de efemeridade e de estarmos a ficar ultrarrápidos. Isto é algo que se calhar também sentes, que a sociedade se encontra numa dispersão tal que já não nos ouvimos uns aos outros e parece que não temos tempo uns para os outros. Depois de eu fazer o Fragmentos, senti que era urgente trazer às pessoas a perceção e a consciência de que eles não se estavam a ouvir. Se tu não ouvires o outro, a troca não se concretiza, estás a ver? Quando estava a fazer o Sem Tempo, assisti a uma palestra de um ativista brasileiro, o Ernesto Neto, com a Sônia Guajajara, que é líder de uma tribo na Amazónia, e eles falaram muito sobre o estado do planeta e aquecimento global. Isto são temas de que já estamos cientes, mas quando és exposto a uma pessoa que sabe exatamente do que está a falar e demonstra que fala sobre isso de uma forma mais profunda e não se cinge apenas a dados e a números… A nossa sociedade está muito baseada nos números e parece que se perdeu a parte qualitativa. Quando estive nessa palestra no Rivoli, no Porto, e quando ouvi o que ouvi, senti o quão irrelevante era escrever sobre o amor se não tivéssemos um espaço para continuarmos a viver. Ou seja, foi um momento onde senti que estava a desconstruir-me a um ponto onde senti que o nosso propósito ia todo por água abaixo se não tivéssemos água, literalmente [risos]. E depois do Sem Tempo, entrei numa espiral assim meio dark porque aconteceram várias coisas na minha vida que me levaram aí e decidi falar sobre estes aspetos todos no FUGACIDADE. Sobre a dispersão, a indiferença, a própria fugacidade, a vontade de encontrar uma comunidade e de chegar a um sítio que não fosse tão individualista. Portanto, sim, ambos os discos estão muito ligados. Acho que um é a extensão do outro.
Desde o teu primeiro EP que sempre trabalhaste com elementos de eletrónica na tua música, mas neste FUGACIDADE apresentas sem dúvida o teu disco mais “dançável”. Houve alguma tentativa de te libertares de certas amarras do passado para chegares a este espaço onde tu e as pessoas pudessem dançar?
No fundo, foi um processo de tentar tocar na minha essência. Eu desde o primeiro EP que trabalhei muito a ligação entre o orgânico e o eletrónico. Pelo meio, aconteceu a canção, não é? A canção portuguesa está muito presente neste disco com aquele formato clássico de canção, mas sinto que este disco é o disco que enaltece mais a minha essência precisamente por causa disso que estás a dizer. Eu consegui meter uma banda a soar a eletrónica, percebes? E consegui meter os loops de eletrónica a soar a banda. E quando juntei tudo, sinto que cheguei a algo diferente. Não sei se soubeste, mas os curadores latinos do NPR Music falaram do álbum e eles repararam nisso e disseram que isso não era uma coisa que estava apenas a acontecer nos Estados Unidos. Isso deixou-me orgulhoso e com fome de trabalhar mais. Porque a seguir ao Sem Tempo, senti muita água na boca porque não consegui perceber a receção do público ao disco. Eu lancei esse álbum em pandemia, percebes? Então, senti que tinha de trabalhar mais. E também, na altura, senti isso quando lancei o Fragmentos e surgiu a “Solidão”. Agora, estão-me a sair novas canções logo a seguir após ter lançado o disco e já estou com vontade de me atirar para o estúdio em breve. Claro que sei que agora é o momento de levar o disco às pessoas e de dançar e cantá-lo com elas. Mas assim que o trabalho está cá fora, começam a surgir coisas novas logo. É uma coisa impressionante.
Então começaste a trabalhar no FUGACIDADE logo a seguir ao Sem Tempo?
Não foi a seguir, foi exatamente no mesmo momento. Eu estava a lançar o Sem Tempo e estava a começar a ter ideias para canções do FUGACIDADE. Seguindo essa lógica, é provável que daqui a três anos esteja outro disco cá fora [risos]. Não quero manifestar, mas é provável que isso aconteça, porque assim que acabo um processo criativo, começo logo outro. Eu comecei a fazer o FUGACIDADE quando estava a lançar o Sem Tempo e ainda estávamos em pandemia.
É curioso, porque no Sem Tempo já dizias que querias dançar na “Só Se For P’ra Alguém”. Já eram as sementes do FUGACIDADE a surgir [risos].
Exatamente [risos].
Não sei se é uma influência tua, mas neste álbum escuto alguns sintetizadores que me lembram jazz fusion japonês ou city pop. É algo em que pensaste para este álbum?
[Risos] Percebo o que estás a dizer, mas acho que isso foi mais a influência daqueles discos de MPB dos anos 70 que tinham muito presente esse estilo de sintetizadores. Discos do Marcos Valle, do Tim Maia. Esse tipo de sonoridade foi uma coisa que veio muito à baila, mais do que a cena japonesa. Mas percebo totalmente de onde surgiu esse teu pensamento.
Quando pensei nessa pergunta, fiquei com curiosidade: como descobres música nova hoje em dia?
Olha, é um processo curioso, porque acho que estamos todos meio desligados da música que nos aparece. Ou seja, eu só sinto que vou mesmo descobrir mesmo música quando vou à procura, quando vou ouvir um disco. Fora isso, não sei, parece que não oiço mesmo estando a ouvir — não sei se isso te acontece. Mas quando um amigo meu me senta e diz para ouvir um disco ou uma canção específica, aí sim, estou a descobrir música. Mas é completamente aleatório, vou-te ser o mais sincero possível. Desde ir aos confins do SoundCloud até descobrir um álbum que me apareceu no Spotify. Eu já não consigo descobrir música na rádio, por exemplo, porque acho que estou a ouvir com outros ouvidos. Acho que o mais importante de descobrir música é como está o teu estado mental para ouvi-la. É muito mais isso.
Como é que depois misturas as tuas influências para fazeres as tuas canções?
Deixo um bocadinho a minha criança interior falar e não tanto o meu lado técnico. Sou uma pessoa que aprendeu jazz e continuo a estudar jazz regularmente na guitarra, mas depois sinto que tenho mesmo de deixar as influências me transformarem quando estou a construir e a criar em estúdio. Ali dentro, é tudo mais à base do que faz a minha criança rir. Porque eu sei que se fizer a minha criança rir, é provável que vá fazer a criança de outros rir também. Acho que o FUGACIDADE surge daí, de eu pensar como tenho estas influências todas de MPB, de house, da disco e da canção portuguesa e de pensar em como posso juntar isso tudo e fazer uma sonoridade fresca e nova. Se calhar, se o Dino D’Santiago nunca tivesse vindo para Lisboa, eu não estava a ouvir afrobeats ou funaná, ou se o Branko não estivesse por aí, não estava a ouvir batida. Acho que isto surge a partir da junção entre as pessoas que estão à minha volta e do que a minha criança me diz.
Em 2020, disseste ao Rimas e Batidas que uma pessoa com quem querias mesmo colaborar era o Dino D’Santiago e a “FUGACIDADE” foi o cumprir desse desejo. Como foi fazer essa malha com ele?
Foi incrível, mas sinto que ainda não colmatei o desejo de estar em estúdio com ele. Mas isso há de acontecer. Porque esta malha foi muito mais lírica. O que o Dino inseriu na música foi mais quase uma leitura da alma e não tanto musical — essa parte foi feita por mim e pelo Zé Maria Gonçalves Pereira. Então, essa cena de fazer algo com ele ainda não foi colmatada ao máximo, mas para mim, ele ter escrito aqueles versos, foi especial, porque me deram um mote para escrever a minha resposta também.
No passado, falaste sobre quereres ter uma parte visual mais forte e presente no teu trabalho. Neste FUGACIDADE, entre os videoclipes e a capa, criaste um universo com esse intuito. Que importância tem essa componente visual de momento no teu trabalho e que significado ganhou esse lado para este teu novo álbum?
A importância, de momento, é gigante. Muitas vezes, antes de compor, olho para cores porque percebi que tenho uma mente muito sinestésica. Percebi que associo sons a cores e que, de certa forma, o olhar para uma imagem vai fazer com que depois o que esteja a fazer no estúdio seja diferente. Acho que todo o processo de eu ter aprendido a produzir durante a pandemia e ter ido a Londres produzir um álbum para um músico de lá, além do mais de ter co-produzido este disco com o Zé, fez-me olhar para a produção do FUGACIDADE de uma forma mais minimalista. Acho que há uma cena de less is more neste álbum porque estava a imaginar que nós, enquanto sociedade, também não precisamos sempre de mais e mais. Acho que uma grande referência musical para isso é a ROSALÍA. Se ela gravar um quarteto de cordas, ela se calhar corta aquilo tudo e utiliza de uma forma super curiosa, que também é muito visual. Acho que o visual acabou por me levar a este minimalismo e esta abordagem de less is more.
Houve premeditação da tua parte e do Zé na escolha dos sons e cores para cada música?
Houve, mas existiu um processo muito longo de pré e pós-produção meu e do Zé. Não só na escrita de arranjos, mas também de irmos decidir o que íamos ou não produzir. Houve esse cuidado. Mesmo a capa, foi pensada um bocado pela dualidade entre o urbano e o rural. A Margem Sul tem uma preponderância muito grande neste álbum porque o disco foi gravado na Plateia D’Ilusões, em Almada, e a casa do Zé também fica do outro lado da ponte. O próprio simbolismo que existe no videoclipe da “FUGACIDADE” tende a representar essa fuga, porque estou a atravessar a ponte. Acho que tentamos cobrir esse tipo de dualidades com o trabalho de pré e pós-produção. O que demorou mesmo a fazer este disco foram os dois anos de pré e pós-produção e todo o processo dos videoclipes porque o processo de gravar o álbum foi muito rápido. Mas realmente, existiu um cuidado clínico de pormos só mesmo o que queríamos que as pessoas ouvissem e gravarmos só o que queríamos ouvir.
Houve, mas existiu um processo muito longo de pré e pós-produção meu e do Zé. Não só na escrita de arranjos, mas também de irmos decidir o que íamos ou não produzir. Houve esse cuidado. Mesmo a capa, foi pensada um bocado pela dualidade entre o urbano e o rural. A Margem Sul tem uma preponderância muito grande neste álbum porque o disco foi gravado na Plateia D’Ilusões, em Almada, e a casa do Zé também fica do outro lado da ponte. O próprio simbolismo que existe no videoclipe da “FUGACIDADE” tende a representar essa fuga, porque estou a atravessar a ponte. Acho que tentamos cobrir esse tipo de dualidades com o trabalho de pré e pós-produção. O que demorou mesmo a fazer este disco foram os dois anos de pré e pós-produção e todo o processo dos videoclipes porque o processo de gravar o álbum foi muito rápido. Mas, realmente, existiu um cuidado clínico de pormos só mesmo o que queríamos que as pessoas ouvissem e gravarmos só o que queríamos ouvir.
O Sem Tempo é algo mais maximalista nesse aspeto, parece-me.
Concordo.
Outrora, dizias que só sabias escrever “canções de amor e desamor”. Há momentos neste disco, como a “PADRÃO (SEMPRE QUE TENTO)”, que trazem esse teu lado ao de cima, mas sinto que quando escreves sobre amor, tentas sempre ser mais incisivo face a, por exemplo, quando escreveste o Fragmentos. Como mudou a tua relação com as coisas que já lançaste desde o teu primeiro EP, que vai fazer dez anos para o ano? Sentes que essas canções ainda se enquadram, por exemplo, no teu espetáculo ao vivo atual?
Curiosamente, enquadram-se super bem. Não estava nada à espera porque achei que podia ser um clash quase. Sinto que já me transformei tanto com o passar dos anos que as pessoas também já se transformaram e quem ia aos concertos eram pessoas que, se calhar, não queriam ouvir um “Desencanto” ou uma “Canção para TI”. Mas, de repente, a receção é bonita. No Porto, por exemplo, a receção foi bem calorosa. Mas mais do que tudo, sinto que me estou a transformar para o lugar que eu queria ir. É um lugar onde o amor está a ser cantado e revelado, mas deixou de ser a razão pela qual escrevia a canção. Ou seja, deixou de ser aquela coisa corny de eu ter acabado com alguém ou alguém comigo e de repente estar a escrever sobre isso. Acho que houve uma maturidade que ganhei com o tempo para escrever sobre coisas que têm a ver com amor, mas a partir de um lado humanista. Acho que houve um desenvolvimento muito grande nesse aspeto. Eu desde pequeno que faço coisas com o objetivo de tentar expressar ao outro que quero o bem dele, percebes? Imagina a metamorfose ambulante que é preciso atravessar para expressar isso com toda a gente. Acho que a “PADRÃO” é um bom exemplo disso, de cantar sobre amor a partir de um lado mais espiritual — que foi como começámos esta entrevista. A “PADRÃO” é sobre amor, mas não é aquele amor clichê, percebes? Há outra canção no álbum, a “oh meu amor”, em que eu canto coisas que se calhar são mais clichê, mas neste disco tens outras coisas além disso. Acho que isto tudo é símbolo de uma transformação da forma como falo sobre amor falando na mesma sobre amor.
Porque é que a “Pensando Bem” e a “oh meu amor” estão separadas do restante disco?
Estão separadas porque foram criadas em momentos diferentes. Achei que era importante as pessoas saberem que elas fazem parte de um bloco diferente. Ou seja, as onze primeiras canções até à “FUGA” vêm de um lugar diferente, quer de estúdio quer de produção, da “Pensando Bem” e da “oh meu amor”. Foram essas duas canções que motivaram o aparecimento do disco e foi a partir delas que percebi que estava a sair um disco de dentro de mim e que tinha de o colocar cá fora. Mas quando surgiram, ainda não sabia bem o que era o disco. Não sabia sobre o que queria falar nem que sentimentos expressar. De repente, a “Pensando Bem” é uma espécie de grito sobre a fuga e a “oh meu amor” é mais uma canção de amor, mas que é uma canção de amor muito importante para mim. Mas não fazem parte do mesmo bloco de canções das restantes. O álbum era inicialmente para ter saído no final de 2022, não sei se sabias. Cheguei a anunciar isso em alguns lugares na altura, mas acabou por não sair. Portanto, isto foi tudo um processo longo, motivado maioritariamente por essas duas canções.
Quando lançaste o Sem Tempo, falaste muito de como te teres tornado artista independente te deu a liberdade de poderes fazeres as coisas à tua maneira e com o tempo que querias. Não sei se esse atraso de que falas te permitiu também a flexibilidade para chegares à forma definitiva que querias dar a estas canções.
Totalmente. Eu agora estou a trabalhar com uma agência, que é a Match Attack, mas sinto que continuo a não estar refém de narrativas que influenciam a arte que quero fazer. Antes, as pessoas diziam-me que achavam que devia meter elemento X ou Y porque funcionava melhor na rádio, ou que devia falar de X ou Y porque ia ganhar mais dinheiro e eu vivo disto, não é? Da música. E eu quis mesmo distanciar-me disso porque não fazia sentido estar a construir uma coisa que não fosse 100% minha. Se o Sem Tempo já era uma ode à liberdade e um grito de saída dessa formatação que existe em Portugal, este FUGACIDADE tem presente uma liberdade ainda maior.
Já tocaste este álbum no Porto e vais levá-lo ao Capitólio, em Lisboa, no próximo sábado. Como é transportar as canções deste FUGACIDADE para cima de palco?
É incrível e está a ser um sonho. Eu estou a tocar com as pessoas que gravaram o disco à exceção do Guilherme Salgueiro, porque ele está cheio de projetos agora e não consegue tocar ainda comigo ao vivo, mas há de tocar nos próximos shows. Quem está a tocar comigo é o João Hasselberg no baixo, o Del Groove na bateria e o Daniel Lima nas teclas. E quer os ensaios, quer os concertos, que foram poucos até agora com esta formação, estão a correr muito bem. Estou entusiasmado para perceber como o Capitólio vai correr e para os concertos que vão surgir daí para a frente. Estou no processo de marcar uma digressão e quero que estes concertos me tragam muita felicidade porque são a concretização de um sonho. Não sei se sabes, mas em março desloquei o ombro e até há um mês e meio não conseguia tocar guitarra. Estava em modo amador de guitarra e de repente estou a tocar com músicos muito rodados. O Daniel Lima toca com os HMB, o Hasselberg tem montes de projetos desde a Surma ao Tiago Bettencourt, o Del toca com o Ivandro todas as semanas. Eles estavam em alta rotação e eu sem conseguir tocar um acorde, estás a ver? Portanto, tive um processo em que tive de dar keep up com a minha técnica e com o meu físico e foi uma concretização muito grande. Depois do concerto no Porto, comecei a chorar porque senti que tinha conseguido, entendes? Não foi só a coisa de meter o disco cá fora e de todo o processo, foi também a cena de conseguir ultrapassar o que a vida me atirou para a frente. Foi muito complexo todo este processo de recuperação que envolveu meses e meses de fisioterapia.
Tens algum regime de treino a que obedeças para tocar guitarra? Ou é algo que não pensas muito?
Agora estou a tentar ter mais por causa do incidente que te estava a contar, mas geralmente tento não ter. Eu tenho um problema em que me canso muito de repetir coisas. Eu estudei jazz e tive sempre mais envolvido com cenas de improviso e tal e tive de desligar dessas coisas para fazer canções. Tive de me ligar a uma cena mais espiritual da guitarra para conseguir passar o sentimento que queria. Portanto, sinto que não estou nem num lado nem do outro e tenho de ir equilibrando esses dois lados, do improviso e do jazz e da canção. Pode surgir-me uma canção que é uma cena super ingénua, que é um diamante que vou estar ali a esculpir e não posso estar a pensar em acordes para conseguir fazer isso. Não podes pensar nisso. Tens de pensar no sentimento que queres passar. Portanto, agora estou a tentar ter uma rotina de estudante, mas não pode ser uma coisa com muito compromisso porque se não começo a pensar muito na música em si e não tanto no sentimento. E o sentimento interessa-me mais que a música agora.
Nos últimos anos, tens trabalhado com o Paulo Novaes e conseguido estabelecer uma relação frutífera com o Brasil a nível musical. Como vês a tua relação com o cenário atual musical do Brasil? W tens planos para apresentar este álbum lá?
Olha, ainda não tenho planos para tocar este disco lá, mas gostava muito e isso já foi falado. Mas a minha ligação com o Brasil é fortíssima. Aliás, o Leo Bianchini, que era dos 5 a Seco, participa na “LOOP”, que foi feita a meias com ele. A “VAMBORA” também fiz com o Marulo, que é do Brasil também. O Marulo é uma pessoa que foi super importante para o processo de concretizar o disco e a partir dele fiquei ligado a São Paulo e ao Rio. Ontem também estive no concerto do Leo Middea, que é um amigo que levo para a vida, e vê-lo a brilhar assim é um sonho. Portanto, sim, essa ligação existe e espero que haja uma digressão no Brasil. Adorava que isso acontecesse.