Na passada segunda-feira, dia 22 de Agosto, pelas 21 horas, jaimie branch faleceu em sua casa em Red Hook, Brooklyn, Nova Iorque. A notícia foi avançada ontem à noite pela editora International Anthem, não tendo sido dadas quaisquer informações sobre as causas da sua morte. A trompetista contava apenas 39 anos.
branch nasceu e cresceu em Nova Iorque e foi por lá que começou por aprender piano tendo depois, mais tarde, chegado ao trompete, instrumento em que se notabilizou; aos 14 anos, a artista mudou-se com a família para Chicago. Em termos de estudos, a sua formação passou pelo New England Conservatory, em Boston, e pela Towson University, em Maryland — nessa época formativa fez parte da banda de punk-ska Tusker e foi-lhe dado a conhecer o free jazz.
Depois de tempos mais conturbados — a heroína entrou na sua vida em 2008 –, o regresso à base foi meio caminho andado para uma nova tranquilidade e a edição do seu álbum de estreia. Em 2017, Fly or Die fica disponível através do selo fundado por Scott McNiece e David Allen — e é aí que é reconhecida globalmente como uma das trompetistas e compositoras mais pertinentes do presente do jazz. Em 2019, a sequela, FLY or DIE II: bird dogs of paradise, só ajudaria a entender que existia ainda mais para descobrir na sua proposta musical. Em conversa com o Rimas e Batidas antes de uma actuação no gnration, em Braga, no ano passado, branch dizia que a utilização da voz nesse projecto tinha ajudado a que se entendesse o seu posicionamento mais politizado e combativo.
Nessa mesma entrevista com Filipe Costa, a morte, essa palavra que surge constantemente nos títulos do seu catálogo em nome próprio, era abordada: “Sinto que te estás a aproximar da vida ou a aproximar-te da morte. Então é meio que uma escolha, como escolher voar — escolher chegar mais perto da vida”.
Em 2021, e depois de em 2020 a colocarmos na lista de 20 mulheres que causaram ondas no jazz, FLY or DIE LIVE mereceria atenção nas Notas Azuis em Novembro — e ficou em terceiro na seleção de melhores do ano dessa mesma rubrica assinada por Rui Miguel Abreu.
Ao público português não faltaram, tal como essa na sala bracarense, oportunidades para vê-la em acção ao vivo. Mais recentemente, na edição deste ano do Jazz em Agosto, foi possível assistir à sua inventividade em dupla com Jason Nazary nos Anteloper e aí escrevíamos:
“A foto que Jaimie colocou nas suas redes deixa claro que o trompete é apenas uma das ferramentas à sua disposição: um conjunto de controladores, sintetizadores, efeitos e outros dispositivos electrónicos serviu para, juntamente com idêntico arsenal do ainda baterista Jason Nazary, preencher o espaço aural disponível com uma densa neblina de bleeps e bloops, uma espessa massa electrónica sobre a qual se escutaram uma bateria com músculo rock feita de tensas e insistentes repetições, sem adornos tecnicistas de qualquer espécie, e breves arremedos de trompete que nunca chegaram a alcançar o estatuto de ‘solo’ – mais tweets do que posts longos, mais gritos repentistas do que discursos ponderados.”
Nesta programação desenhada pela Fundação Calouste Gulbenkin para 2022, branch também fez parte do ensemble reunido por Rob Mazurek. Não será descabido pensar que foram dois dos seus últimos momentos em palco ainda em vida.