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Texto: ReB Team
Fotografia: António Júlio Duarte
Publicado a: 20/03/2025

Um quarteto feito em palcos para neles existir.

Humanization 4tet preparam nova digressão europeia: “A nossa música é mundana!”

Texto: ReB Team
Fotografia: António Júlio Duarte
Publicado a: 20/03/2025

Marquem na agenda: a 5 de Abril, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém estarão em palco Humanization 4tet de Luís Lopes (guitarra eléctrica), com Rodrigo Amado (saxofone tenor) e irmãos Aaron e Stefan Gonzalez (contrabaixo e bateria). Uma portentosa formação a que se poderia cunhar a invenção do termo “jazz’n’roll, tamanha é a vivência no espirito do sempre a rolar e muito pelo jazz que praticam como poucos, vindo da estrada e dos muitos palcos. 

Aí está mais uma prova disso com o seu novo e quinto registo Saarbrücken. Sem concessões quanto ao espaço de criação e gravação — em cima do palco, como apanágio identitário do quarteto. Desta feita gravado em 2021, aquando do Saar Free Jazz Fest em Saarbrücken, na Alemanha, e editado no final de 2024 pela resiliente Clean Feed. Um álbum com dedicatória especial, como tributo à memória de Dennis Gonzalez, o feiticeiro do quarteto. Saarbrücken local onde, aliás, voltam para uma residência de 5 dias, em meados de Abril, na rota que parte de Belém rumo a outros portos europeus do jazz. Para humanizar palcos da Croácia, França, Alemanha e Bélgica, há 11 datas agendadas, uma digressão que mantêm a chama bem acesa desta fundamental formação. Dias a conferir em cartaz para quem estiver por perto ou se fizer ao caminho, esse mesmo apontado por eles.

O momento motiva uma breve troca de impressões. Três perguntas, recheadas de outras tantas respostas, como as três suites que compõem o novo disco. Responde o guitarrista e mago energizante Luís Lopes contando como foi a aventura até aqui e, num mais que interessa, como se mantêm vitais.



Este é um quarteto oleado por incontáveis gigs em muitos palcos espalhados por todo o mundo. Como é que descreves a energia que esses quatro corações debitam noite após noite?

Os Humanization são uma máquina aglutinadora, vivemos tudo a fundo, porque somos assim, hiperativamente sensíveis, tudo nos entra a mil à hora. Ao longo dos anos desde 2008, fizemos três tours americanas on the road em carrinha de cidade em cidade. Esta que se inicia no CCB a 5 Abril é a terceira na Europa, aqui viajamos por avião e comboio. Diferentes ambientes, diferentes aventuras. Na wild América vivemos as mais espontâneas e incríveis experiências, a acontecer e vividas ao segundo. Avarias, perigos eminentes, violência, ataques por gangs com armas, caçadeiras de canos serrados encostadas à barriga, dormidas em tudo o que é sitio, muitas vezes todos ao molho, desaparecimento da chave da carrinha, discussões infernais, emoções ao rubro, cada noite uma vertigem, com outros, por vezes direitos ao palco do dia seguinte, flashes, visões, viagens alucinantes, caos, também trips e descobertas luminosas e inspiradoras. Na Europa outras aventuras, por vezes drásticas também, mais qualidade, mais dinheiro, aviões, comboios, festivais, boas salas, mais discos vendidos, menos armas, menos violência, mais espaço para a boémia vertiginosa, tudo em forte relação com o meio, a vida, o mundo, os outros. Por vezes, viver a orgia dos excessos de tudo o que está para lá dos limites da “normalidade”. A nossa música é mundana! Tudo é trazido para a arena de operações dos concertos ao vivo. Construímos uma conformidade entre quatro personalidades, com admiração, respeito e acima de tudo interesse e orgulho em estar juntos. E desta forma construímos a música dos Humanization 4tet. Depois de Live in Madison e Believe, Believe (este gravado em New Orleans), este novo Saarbrüken que temos em mãos agora é o terceiro disco gravado ao vivo, a forma que se tornou obrigatória para nós, pois é para o palco que trazemos o nosso “drama”, onde tudo volta a acontecer e viver através da música, e é isso que no fundo nos interessa registar e partilhar. 

Podes descrever um dia típico pré-gig? Há algum ritual ou hábito recorrente que distinga este quarteto de outras formações com que também tocas?

Por exemplo, na noite em que gravámos este último Saarbrücken, nesse festival homólogo, foi uma noite extremamente intensa. 4 concertos seguidos por noite, todos no mesmo palco, assim são estes festivais, nós éramos os últimos no nosso dia, fechámos o festival. Um desfile de estrelas a tocar antes de nós, vimo-los a todos, nós somos assim, como Lotte Anker, Gerry Hemingway, Michel Doneda, Roger Turner, Baby Sommer, Barry Guy, Joe McPhee, John Edwards, Fred Lonberg-Holm, Assif Tsahar, Mat Maneri, entre outros. E eles também nos viram. Nesses festivais estamos todos juntos! Todos os grupos são diferentes. Este caso é especial pois criámos laços de intimidade fortíssimos, criámos uma família. Somos todos extremamente emotivos, intensos e explosivos. Até houve choros de emoção e nervos, acredita. Sentimos uma liberdade inigualável entre nós, há uma enorme confiança a circular entre os nossos profundos seres, uma coisa espiritual, misteriosa… Talvez tenha a ver com o Dennis Gonzalez, pai dos Gonzalez, como sabes, uma figura de peso do trompete nesta música, uma pessoa enorme, não só pela sua arte mas também em todos os campos humanísticos, muito espiritual também. Está sempre entre nós para ajudar a orientar.

A constante busca pelo desconhecido em que o quarteto embarca noite após noite há-de garantir emoções muito fundas a cada um dos membros. Como é que te costumas sentir após um concerto em que puxem especialmente pelo grau de intensidade?

Eu já sei que quando vou, quando vamos, para uma tour com este grupo vai ser arrasador. Tem que haver muito trabalho, pré e durante, de construção, gerência de emoções, energia e concentração no sentido da concretização, muita estratégia, sensatez também, tudo no que diz respeito a “ti” individualmente e também aos outros, e entre todos — afinal, se alguém “falir” não funcionará! Estamos juntos, como uma máquina bem oleada. Sabemos que tudo será para um fim comum: servir a música, a nossa música, a nossa aventura, a nossa criação. Concerto a concerto. E “tudo” é deixado em cada um desses concertos, todos têm que ser “o concerto”, onde tudo tem que acontecer. E assim são todos diferentes, mesmo com um repertório de temas misturados com muita improvisação e experimentação também. É assim que funcionamos. Para já, temos o concerto no CCB a 5 Abril, 19h00, que iniciará a tour, e é para arrasar, dar tudo e viajar desmesuradamente. Mas, ainda vem o depois, mais concertos todos os dias até 19 Abril, com tudo o que falámos para trás. E depois? Bom, como deves imaginar, tenho que ficar um tempo de molho para recuperar… [Risos]


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