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Texto: ReB Team
Fotografia: João Pedro Padinha
Publicado a: 17/03/2025

Transformar o desconforto em arte.

Faixa-a-faixa: WHAT TO DO WITH YOUR HANDS de Extrazen explicado pelo próprio

Texto: ReB Team
Fotografia: João Pedro Padinha
Publicado a: 17/03/2025

Lançado no final de Fevereiro, WHAT TO DO WITH YOUR HANDS, o novo EP de Extrazen, é um mergulho visceral na auto-descoberta, explorando inquietações pessoais e os desafios inerentes à criação artística. Com uma sonoridade que transita entre a pop alternativa, o hip hop de vanguarda e a electrónica experimental, o disco apresenta uma estética fragmentada, mas coesa, reflectindo um estado de tensão constante entre o impulso de agir e a paralisia da dúvida. A produção é assegurada pelo próprio artista e é marcada por batidas cortantes e ambientes sonoros densos, capaz de evocar a energia das pistas de dança, mas com uma carga emocional introspectiva. É um trabalho que não oferece soluções fáceis, mas que se destaca pela forma como transforma o desconforto em arte.

WHAT TO DO WITH YOUR HANDS sucede a I THINK I THINK TOO MUCH, um outro curta-duração que em 2022 marcou a estreia em nome próprio do projecto que espelha a musicalidade que reside dentro de Francisco Andrade. Com os seus 7 temas a ganhar tracção nas plataformas digitais nas últimas semanas, o próximo passo é transportá-las para os palcos: já esta quinta-feira, dia 20 de Março, Extrazen apresenta-se ao vivo no Lux Frágil, em Lisboa; segue-se o Plano B, no Porto, a dia 29 do mesmo mês.

Com os ensaios a decorrer, Extrazen tirou um tempo da sua agenda para dissecar o novo EP ao Rimas e Batidas em regime de faixa-a-faixa.


[“360 DEGREE PALM STRETCH”]

Esta primeira faixa é, como o nome indica, um alongamento ou aquecimento das mãos para o resto do EP. O objetivo era ser uma espécie de wake up call violenta, uma ligação direta entre as mãos e a criação — até porque foi feita na manhã a seguir a ter decidido o nome do projeto, que era o título de um dos capítulos do livro que estava a ler na altura, Wherever You Go, There You Are do Jon Kabat-Zinn — e serviu como um brain dump caótico que nos prepara para o resto dos temas que vão ser abordados, refletindo a importância do poder das nossas mãos em tudo o que fazemos e também o meu estado de espírito geral. Acordar, criar, falar a minha verdade e ser honesto, get it done. Com as mãos em primeiro plano sempre.


[“HOLLYWOOD” (feat. Herlander , Odete)]

O primeiro single do projeto, que saiu em julho do ano passado, e talvez a faixa que para mim foi a mais complicada de terminar. Comecei a produção e terminei-a praticamente sozinho, com a ajuda de alguns drums da Odete e uns toques do Luar a meio do processo tendo depois convidado o Herlander e a Odete a entrar também com voz por achar que estão ambos perfeitamente alinhados com a mensagem da música — sendo a personificação clara do tema.

Nesta faixa queria falar da mentalidade “fake it ‘til you make it” e a importância de acreditarmos em nós próprios antes de qualquer outra pessoa, sem termos que alterar a nossa personalidade ou quem somos para agradar os outros. Quando arriscamos e tentamos sair da nossa zona de conforto, as pessoas que estão à nossa volta tentam por vezes imediatamente pôr-nos em caixas, rotular-nos, pintar-nos como vilões ou como iludidos. Queria que esta faixa fosse o reflexo puro dessa energia intocável — eu sou o melhor, sei que o sou e não quero saber o que tu tens a dizer sobre isso. Este tema está bastante presente em todas as faixas porque é algo em que acredito veemente e é o que me move todos os dias, essa confiança e vontade de continuar a quebrar barreiras.


[“PLASTER ME”]

A “PLASTER ME” é uma das minhas faixas preferidas do projeto e é um exemplo de uma faixa onde eu já sabia o que queria antes sequer de começar a escrever. Queria fazer um club banger, um som que as pessoas conseguissem ouvir na noite, a dançar e cantar, mas que escondesse um significado especial por baixo dessa camada instrumental. 

A música fala sobre a experiência de sofrer bullying e ser menosprezado e como dei a volta por cima, tendo agora essas mesmas pessoas na frontline dos meus concertos. Não é tanto sobre revolta ou vingança, mas sim uma victory lap. O próprio refrão foi escrito para parecer que estou só a dizer “get low”, como que a motivar o movimento num club, quando na realidade, com o contexto da letra segundos antes, digo “I don’t act with the volume down, I’ll never let it get low” — a salientar que vou sempre ser eu mesmo, vou falar e fazer o que quero, sem nunca baixar o volume da minha voz por influências de outras pessoas.


[“STUNT”] 

Na “STUNT”, o objetivo era muito simples — mostrar a mentalidade “do it yourself”. É uma faixa agressiva e fast-paced, onde queria estar os dois minutos e meio com a minha melhor escrita, num egotrip assumido, e salientar que, se ninguém acreditar em mim, eu vou fazer acontecer por mim próprio, tenho essa capacidade. Posso começar uma canção sozinho e acabá-la sozinho, sou autossustentável, quero cada vez mais empurrar os limites da caixa onde me podem meter e provar a toda a gente que sou o melhor no que faço, que ainda estou a começar e que não coloco qualquer teto para o meu sucesso e para onde posso chegar.


[“MEANING”]

Sem dúvida a faixa mais especial do projeto. Foi escrita numa altura da minha vida mentalmente complicada, logo a seguir a terminar a faculdade, onde tive de gerir muitas expectativas — foi quando tomei a decisão de fazer música a full-time e não ter um trabalho 9 to 5 em prol de dedicar todo o tempo que tenho ao meu sonho.

Toca em pontos muito pessoais, tais como as reações dos meus pais a essa decisão e os impasses que encontrei nesses momentos em que tinha tempo para escrever mas nada se traduzia para o papel — “had all the time for testaments, but all they were giving me was a lapdance”. É uma faixa onde queria ser o mais vulnerável que já tinha sido até ao momento, em qualquer uma das minhas músicas.

Na segunda parte da música, a seguir ao skit da troca de cassete, ouve-se uma balada que o meu pai me cantava todas as noites, antes de ir dormir, e que contrasta de forma perfeita com a primeira metade da canção. Depois de uma primeira parte onde a minha família fica preocupada por eu querer seguir os meus sonhos e preferir esse risco a ter um trabalho seguro, volto a um sítio da minha infância onde o meu pai me cantava exatamente o oposto — “deixai-o dormir, deixai-o sonhar, as cantigas são os sonhos do menino”. 


[“BACK TO LIFE”]

Chegando à parte final do EP, nesta faixa temos uma love song assumida onde queria espelhar maioritariamente revolta, e não tristeza: a revolta de ter alguém de quem gostamos lentamente a afastar-se, sem motivo aparente, deixando-nos confusos e sem sítio onde nos refugiarmos. Queria que fosse uma balada com um drop intenso e glitchy, com sons agressivos que mostrassem esse estado de espírito confuso e intenso que é o amor e todos os sentimentos díspares que nos faz sentir.


[“DON’T YOU WORRY”]

A “DON’T YOU WORRY” marca o final da viagem deste EP e fala sobre o movimento da vida e as pessoas que vamos conhecendo ao longo do caminho e que, por forças maiores que nós, vão ficando pelo caminho ou vamos perdendo contacto. É um reflexo da minha vida atual — estando agora a morar em Lisboa, estou menos vezes com alguns dos meus amigos com os quais não quero de todo perder o contacto e a relação que temos. A música parte do ponto de vista de eu ligar a alguém com quem já não falo há muito tempo mas que, na realidade, vive sempre em mim, por tudo o que já passamos juntos. 

É um lembrete agridoce — mesmo que a vida nos atire em direções opostas, vou tentar ao máximo manter o contacto, porque a preocupação e o carinho vão estar sempre lá e porque quero que essa pessoa se mantenha presente na minha vida; no entanto, também existe o medo de chegar a um ponto em que isso será cada vez mais complicado. No vídeo vemos essa tensão entre um eu muito tranquilo e feliz e um eu mais tenso e com medo ao ver um cartaz que diz “maybe you should worry ‘bout it”, a contrastar com o nome e refrão da música. 

Não queria, no entanto, que fosse uma música triste, porque acredito que tudo acontece por uma razão e que mesmo longe estamos sempre perto daqueles que de facto mudaram e mudam as nossas vidas. Acredito que tudo está predestinado, que o caminho está traçado e temos apenas de o seguir. Se alguém entra ou sai da nossa vida a um certo ponto é porque assim tem que acontecer, é o movimento natural do tempo.


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