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Fotografia: Marta Pina
Publicado a: 28/10/2024

A brilhar na constelação da batida.

DJ Lycox sobre Guetto Star: “Apostei em faixas diferenciadas porque queria trazer algo novo”

Fotografia: Marta Pina
Publicado a: 28/10/2024

Chama-se Guetto Star e é o novo álbum de DJ Lycox, figura de proa no movimento da batida. Desde 2017 que o produtor de 26 anos não lançava um álbum pela Príncipe, editora fulcral na história e disseminação desta música. Depois de Sonhos & Pesadelos, ainda apresentou EPs como Kizas do Ly e LYCOXERA, mas o músico revela que tinha vontade de voltar a apostar num formato de maior duração.

“Este disco foi uma ideia que eu já planeava desde 2020”, explica ao Rimas e Batidas. “Na altura comecei a pensar que já fazia um tempo que não editava um álbum. E pensei que tinha de vir com um arsenal meio que diferenciado do primeiro que lancei pela Príncipe. Como estávamos numa pausa, não podíamos tocar e estávamos mais em casa a produzir, apostei em faixas verdadeiramente diferenciadas para trazer ao público algo novo. Sempre com uma base afro, kuduro, batida, mas diferente do que eu tinha mostrado antes. Eu diria que é mais hardcore, mais pesado do que aquilo que estou habituado a editar.”

O título surgiu após uma actuação em Amesterdão, nos Países Baixos. “No dia seguinte, um rapaz disse-me: ‘Mano, tu és uma estrela do gueto. Continua a fazer isso que estás a fazer’. E achei logo que seria um bom nome para o álbum.”



A par dos lançamentos pela Príncipe, DJ Lycox tem divulgado trabalho através das suas próprias plataformas digitais. Em Junho, apresentou TERAPIA, um projecto com uma dezena de faixas que acabaram por não encaixar na linha editorial da Príncipe.

“Há sons em que vejo potencial, mas se calhar esse potencial não vai de acordo aos ideais para um próximo álbum da label. Então, lanço na mesma para os meus ouvintes. Deixei um monte de sons para eles, como também já não lançava há algum tempo. E vejo vantagens em trabalhar das duas formas, com e sem a editora. Tenho essa liberdade e é realmente gratificante para mim.”

Em Setembro, foi a vez de outra edição de autor, CRÓNICAS, com o seu colectivo Tia Maria Produções do qual também fazem parte Danifox, Puto Márcio, DJ Bboy e Deejay Poco. Trata-se de uma compilação de nove faixas, recentes mas também antigas, que passaram pelas mãos de todos. “A faixa começava, vamos supor, pelo Danifox, e aquilo depois girava pelo grupo. Cada um ia acrescentando as suas coisas. Por que não lançar algo misturado mas super diversificado em termos de estilo? Porque dentro da batida há vários estilos.”

[Quem é DJ Lycox?]

Criado no Miratejo e de origens angolanas, DJ Lycox começou a produzir muito cedo, quando tinha apenas 10 anos. “Tive três amigos que me influenciaram: o Bboy, o DJ Edifox e o meu primo Nuno. Foram os três à minha casa, instalaram-me o FL Studio e deram-me essa base. Porque já estavam dentro do movimento e ensinaram-me a construir instrumentais. Depois disseram-me: ‘Não te podemos dar mais do nosso sauce, agora com esta base tens de te ir desenvolvendo e criar a tua própria identidade…’ E foi assim que comecei.”

Em 2012, mudou-se para Paris, a capital francesa país onde outros nomes da batida estão ou estiveram instalados, graças aos fluxos migratórios destas comunidades, o que também tem contribuído para a expansão do movimento e para a disseminação destes sons oriundos dos subúrbios lisboetas.

Viver em França, conta DJ Lycox, também influenciou a sua música. “Desde criança que gosto de música. Lembro-me de ouvir pop, R&B ou hip hop na MTV ou no MCM Top. Fora da televisão, era só o kuduro que consumia. Depois veio o afrohouse antes de me ir embora. Também ouvia kizomba e semba, era aquela identidade angolana, dentro de casa e fora, também no bairro. Mas, quando chego a França, descubro um mundo ainda maior. Tens os da Costa do Marfim com o coupé decalé, os congoleses com o ndombolo, a música dos árabes… Tudo isso abriu-me a mente em termos artísticos. Para mim foi um mundo novo. Fiquei: ‘Uau, deixa-me tentar pegar nisto tudo e incorporar na minha cena. Para não ser mais um, dentro do movimento, deixa-me tentar fazer a diferença.’ E foi aí que comecei a misturar certas identidades musicais, desde o coupé decalé ao techno que também consumia em França… Depois comecei a ouvir dubstep, jazz ou blues para crescer mais no que toca à musicalidade. E daí incorporei tudo isso no meu estilo e comecei a destacar-me. Sinto que verdadeiramente me mudou musicalmente.”

Nos últimos anos, sente que a batida tem furado no circuito underground dos clubes de Paris, com mais festas e players atentos ao movimento. “Estamos aqui para mostrar à nossa comunidade tuga e angolana e a fazer com que isto cresça. Hoje em dia há mais destaque, antigamente era mais techno e dubstep, vibes mais comerciais… Quando se começou a descobrir a batida a partir de 2014, e em 2015 e 2016, começou a haver mais espaço. Perceberam que era algo diferenciado, que o pessoal gostava, então ‘vamos chamar artistas que fazem esse estilo.’ Acabei por ser abençoado por viver cá, descobriram-me e, olha, ‘já que vives cá, vem cá fazer um show à rádio, vem tocar a este e àquele sítio…’ E na Internet iam ouvindo o produto de todos os manos da comunidade e isso também ajudou imenso.”

DJ Lycox sente que o crescimento tem sido exponencial. “Nestes últimos dois anos, tem-se verdadeiramente expandindo. Os europeus, os americanos e até os russos, a quantidade de workshops de dançarinos da Rússia… É um país em que dizemos ‘uau, como é que a batida chegou até aí?’ Ainda não está tão grande como o amapiano ou outros estilos, a batida ainda é underground, mas continua a expandir-se a cada dia. Acredito que, mais um ano e meio ou dois anos, e pode acabar por ficar mainstream.”


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