O jovem DJ e produtor brasileiro QUANT estreou-se há dias na Enchufada com “Açúcar (New Mix)”, uma reinterpretação de um tema da angolana Olinda Simeão. Radicado em Lisboa desde a adolescência, o artista de 20 anos tem vindo a mergulhar no universo da música electrónica associada aos países africanos de língua portuguesa e este é mais um passo nesse sentido.
Depois de ter actuado no novo Coala Festival, que evocou uma certa utopia lusófona, Rafael Prata Ramos está de olhos postos no NOS Alive, onde irá actuar a 11 de Julho. O Rimas e Batidas colocou-lhe algumas perguntas sobre a nova faixa, a relação com a Enchufada e o seu background musical e pessoal.
Como descobriste esta canção da Olinda Simeão? O que te despertou nela?
Foi de uma forma muito boa. Tinha uma sessão de estúdio e troca de ideias com os Afrokillerz, e quando lá cheguei estavam a ouvir essa música. Até brincámos que era uma boa música para um remix. Chegámos a fazer um rascunho lá no estúdio, mas no meio de outros projectos a ideia acabou por ficar na gaveta. A música traz-me muita calma, e isso cativou-me. Ficou em repeat nos dias depois dessa sessão, ouvia-a sempre que ia à praia, e acabei por voltar a pegar nela.
Começaste imediatamente a trabalhar num remix do tema? Como foi a tua abordagem? Como chegaste a este resultado?
Quando comecei a produzir, não estava a pensar em fazer um remix. Precisava de uma música para fechar os meus sets e estava a trabalhar numa linha de drums. Terminei de montar a bateria e a melodia da “Açúcar” veio-me naturalmente à cabeça, por isso juntei-as e combinaram na perfeição. À medida que fui trabalhando na música, e que também enviei à Olinda Simeão e fui recebendo feedback dela, achámos que o termo remix nem capturava bem o que estávamos a fazer — daí termos optado pelo “New Mix”.
É a tua estreia pela Enchufada. Como se deu a tua ligação à label? É importante para ti estares numa editora como esta?
O Branko chegou até mim através de um edit que fiz da “Afeto”, da Mayra Andrade. Começámos a conversar e ele naturalmente foi-me ensinando algumas coisas e deu-me um boost de confiança, até porque eu estava a começar a produzir mais músicas com vozes em português. Não há tanta gente assim a fazê-lo, e esse incentivo foi crucial. Passado algum tempo mostrei-lhe a “Açúcar” e falámos em lançá-la pela Enchufada. É óbvio que é um passo muito importante, e para mim, que vim de fora, tem um significado especial que a minha música seja abraçada em Portugal. Já me aconteceu algumas vezes estar a passear por Lisboa e ouvir uma música minha a tocar em algum lugar aleatório, e não consigo não ficar um pouco emocionado.
Há quanto tempo estás em Portugal? Vieste em contexto familiar?
Estou cá há seis anos, e sim, vim com a minha família. Já tínhamos planos de sair do Brasil e conhecer outros lugares do mundo. Entretanto, o meu irmão mais velho recebeu uma proposta de trabalho e viemos para cá morar.
A tua presença por cá tem influenciado a tua música?
Tem influenciado muito! No Brasil, no sítio onde eu morava, não se ouvia falar em afrohouse, kizomba, tarraxo, etc. Quando aqui cheguei, foi todo um novo mundo que se abriu e pelo qual me apaixonei.
Como e quando começaste a produzir?
Acho que o impulso para fazer música está comigo desde pequeno. Já desde os seis ou sete anos que tocava bateria, brincava a rearmonizar músicas, e sempre quis conhecer mais e mais música. Passava os dias numa escola de formação musical que me deu o primeiro contacto com a produção. À medida que fui entrando no mundo da música electrónica, já tinha essas ferramentas que me ajudaram, mas inicialmente era só um passatempo. Há cerca de quatro anos comecei a dedicar-me de forma mais séria e senti uma evolução consistente.
Estás a trabalhar em mais temas ou remisturas? Nalgum projecto que já possas adiantar?
Sim, tenho alguns temas prontos, que vou testando nos meus sets. Estou também a preparar um projecto de afrohouse mais focado em instrumentos acústicos, fugindo um pouco do universo dos sintetizadores.
Actuaste agora no Coala Festival e depois rumas ao NOS Alive a 11 de Julho. O que se pode esperar de um set teu?
É verdade, está tudo a acontecer muito rápido. Há dois anos estava a lançar a minha primeira música e agora estou no cartaz de dois grandes festivais — é assustador, no melhor sentido possível. Não sei bem se posso dizer o que esperar de um set meu, tento desafiar-me e reinventar-me de cada vez que toco. No geral, acho que podem esperar música com muita percussão, e a promessa de música nova para descobrirem.