Na fila expectante que se formava em frente ao Lisboa ao Vivo para ver Danny Brown actuar no passado sábado, 1 de Junho, via-se de tudo um pouco: t-shirts de Pink Floyd, Car Seat Headrest e Death Row Records. Ténis da Supreme, camisolas do Real Madrid, casacos de cabedal. Esta plateia heterogénea deve muito ao tipo de músico que Brown é: enverga as vestes de um rapper, mas a sua versatilidade vocal aliada a bangers de instrumentais idiossincráticos colocam-no numa categoria só dele, que ressoa com variadas e por vezes inesperadas pessoas. Hipsters, hypebeasts e hip hop heads convergiram todos naquela localização para ver o espectáculo de alguém que tem mostrado a sua imprevisibilidade musical e destreza lírica ao longo das últimas duas décadas. E naquela noite, todos estavam unidos no seu apreço pelo artista de Detroit.
O concerto foi uma viagem pela carreira de Brown, mas o destaque foi para o seu mais recente projecto a solo, Quaranta. O artista foi recebido com grande alvoroço por uma plateia muito bem composta antes da faixa-título abrir as hostilidades de uma noite quente e acelerada. “Tantor” e a sua batida seca com um loop de guitarra foram o primeiro estrondo, aplaudidos com grande entusiasmo por parte de um público que se entregou completamente à actuação. “Ain’t My Concern” e “Dark Sword Angel” ainda se ouviram antes de Brown agradecer ao público pela presença, terminando com o seu riso característico antes de nos levar por uma viagem por XXX, pela mão de “Monopoly” e “Lie4”, e Old, através de “Smokin & Drinkin’” e “Dip”. Estes temas ao vivo foram apresentados com um vigor diferente, as batidas soaram mais electrónicas, customizadas para levantar o maior número de pés do chão. E foram poucos aqueles que não saltaram ao som do catálogo mais antigo de Danny Brown.
O medley de temas de SCARING THE HOES — engenhoso projecto colaborativo que Brown lançou com JPEGMAFIA o ano passado — foi outra das ocasiões em que o público não se conteve. “Steppa Pig” arrancou assobios de agrado do público, “Burfict!” soou com toda a glória que o seu sample de sopros incute e “SCARING THE HOES” teve direito a moche alimentado pela sua batida tresloucada e agradavelmente ensurdecedora. “When It Rain” também foi muito disputado, o moche intercalou com o flow disparado de Brown com critério e pujança. Foi um dos temas mais suados da noite, mas o título de mais fúnebre vai para “Really Doe”. A sua batida angustiante relembrou a todos os presentes a força desta pérola de Atrocity Exhibition e o refrão foi entoado com grande afinco pelo público.
Na recta final, “Dirty Laundry” marcou a presença de uknowhatimsayin¿ no concerto e a exasperada “Jenn’s Terrific Vacation” trouxe as últimas palavras de Brown para o público. Confessou-se grato e humilde por fazer vida com a sua música, e ainda que agora esteja sóbrio e os devaneios que descreve em muitas das suas canções já estejam para trás, o rapper não esconde o seu passado e entende que faz parte dele. “Grown Up” fechou a loja com especial relevância, uma celebração do amadurecimento de um dos artistas mais singulares da sua geração. E embora o encore tenha sido pedido de forma veemente pelo público, não aconteceu. Ainda assim, todos os presentes levaram para casa memórias de uma potente estreia de Danny Brown na capital lisboeta.