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Fotografia: Peter Beste
Publicado a: 04/06/2024

Mais maduro, mas irreverente como sempre.

Danny Brown: “Não gosto de fazer a mesma coisa duas vezes”

Fotografia: Peter Beste
Publicado a: 04/06/2024

Para quem só conhece Danny Brown através dos seus coloridos videoclipes, o estado “sentado calmamente a fazer scroll no twitter” pode soar profundamente antitético. Mas foi assim que o encontrámos momentos antes do seu acelerado e frenético concerto no Lisboa ao Vivo. Talvez sejam reflexos da sua idade — celebrou 43 anos em 2024 — ou talvez seja porque se entregou à sobriedade e deixou para trás uma vida de exageros e comportamentos destrutivos. Mas a pacata disposição daquele que é um dos rappers mais inventivos da história do género não significa que tenha perdido destreza: pelo contrário, ouvimo-lo com uma ambição renovada, à procura do próximo beat maravilhosamente disfuncional por cima do qual vai deixar a sua acertada caneta fluir. 

Com três projectos lançados no ano passado — Quaranta em nome próprio; SCARING THE HOES e SCARING THE HOES: DLC PACK em colaboração com JPEGMAFIA — Brown não faz tenção de abrandar. É veterano só de nome, em espírito continua a ser o mesmo jovem de voz anasalada e timbre agudo que em 2010 se revelava oficialmente ao mundo a solo em toda a sua glória tresloucada. O Rimas e Batidas sentou-se com o singular rapper norte-americano para uma curta entrevista em que se falou da redescoberta da sua paixão pelo hip hop, o processo de criação de Quaranta, colaborações futuras e também da sua casa longe de casa — a Warp Records



Quaranta mostra uma nova fase para ti, a entrada nos 40, e ouvimos uma versão mais madura de ti mesmo neste projecto. Como é que este marco influenciou a tua música?

Acho que é uma questão geral ao crescimento e ao passar dos anos. Sinto que nunca páras de aprender, e já faço rap há tanto tempo que preciso sempre de encontrar novas maneiras de me desafiar. Podes sempre ficar melhor no que fazes se envelheceres sem sentires que sabes tudo. 

A tua entrega em Quaranta é mais estóica, séria e controlada. Isto é algo que vamos ver mais no futuro?

Não gosto de fazer a mesma coisa duas vezes. O que quer que seja que se esteja a passar, é isso que vai aparecer na minha música, era aí que estava na minha vida nesse momento. Portanto, se eu fizesse outro álbum como esse não ficaria feliz com isso. 

Disseste numa entrevista que estar sóbrio te permitiu apreciar muito mais o processo de fazer música. Como é que a sobriedade afectou o teu processo criativo?

Eu não estou sóbrio a trabalhar em música assim há muito tempo, ainda não ouviram a minha música enquanto sóbrio. 

E na nova música que estás a trabalhar, notas alguma diferença?

Sinto que agora surge mais facilmente. Honestamente, eu estava a tornar tudo mais difícil para mim mesmo. Agora divirto-me outra vez, estou apaixonado por isto outra vez. Estou a desfrutar do processo, e dantes era mais “deixa-me ficar todo fodido, despachar o que tenho a fazer para poder voltar a ficar todo fodido”. 

Os créditos de Quaranta revelam que a faixa-título teve produção do artista português Holly. Como é que surgiu esta colaboração?

Foi através das redes sociais. Ele mandou-me uma mensagem no Instagram e no início enviou-me uma porrada de beats, mas essa foi a única música que ficou no álbum. Mas ainda estamos a trabalhar juntos, estamos a trabalhar nas minhas novas músicas. 

Também trabalhaste com Kassa Overall e Sven Wunder. Foi uma abordagem diferente tendo em conta que eles são instrumentistas além de produtores?

Não, não foi uma abordagem diferente. Normalmente eu recebo imensos beats e deixo-os a tocar no meu dia-a-dia ou enquanto limpo a casa. Por vezes, há palavras que me vão surgindo com certos beats e foi assim que foi. Foi a minha editora, a Warp, que me enviou as batidas. Eu não sabia quem eles eram antes disto. Agora damo-nos bem, estive com o Kassa há pouco tempo, vou definitivamente voltar a trabalhar com ele. 

A Warp é a tua casa desde 2016. Quais foram as tuas razões para te juntares a esta editora? Não é o lar mais óbvio para um rapper

Aí está a principal razão. E também o legado que eles têm, o tipo de música que lançam, eles deixam os artistas serem artistas. Eles acreditam em mim, confiam na minha visão e estão sempre dispostos a fazer de tudo para que o que eu quero fazer ganhe vida. Tem sido uma óptima relação de trabalho e não imagino ninguém melhor com quem trabalhar. 

É conhecido o teu amor pelo grime. Imaginas um crossover semelhante entre música electrónica e hip hop a acontecer nos Estados Unidos?

Eu acho que já aconteceu com o trap. O trap é baseado na versão de Atlanta da música trap. Por isso, acho que há sempre essa infiltração entre géneros. Eu acho que é possível, mas neste momento [o hip hop] está a ir em duas direcções diferentes. Tens um retorno às raízes do hip hop, mas os mais novos estão a fazer coisas mais cantadas. E a música electrónica está a voltar mais onde já esteve. Estamos a voltar à era do dubstep, e até o drum and bass e o jungle estão a voltar em grande. Tudo tem ciclos. Mas se há alguém que possa fazê-lo sou eu. 

O ano passado lançaste também um projecto colaborativo com o JPEGMAFIA, SCARING THE HOES. Como é que o processo deste álbum diferiu de Quaranta?

No Quaranta era eu sozinho a trabalhar durante a quarentena. O Peggy [JPEGMAFIA] é meu irmão, portanto no SCARING THE HOES era como se nem estivéssemos a fazer música, estávamos a passar tempo juntos e fizemos música no meio disso. Quando trabalho sozinho, parece-se mais com trabalho. Mas com ele foi só divertido. 

O que é que podemos esperar da tua parte no futuro próximo?

Estou a trabalhar em nova música. Nunca sei o que vou fazer, estou sempre à procura e a experimentar coisas novas, acho que a única coisa a esperar é o inesperado. Mas de forma geral, sei que estou a crescer e a aprender e nunca vou parar de tentar ser melhor na minha música. Quero continuar a seguir em frente, e não ficar preso num sítio em que sinto que sei que há algo que resulta e vou só continuar a fazer algo que acho que as pessoas querem ouvir. Eu vou sempre fazer algo diferente e que me entusiasme.


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