pub

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 03/10/2024

Mais do que bonito.

Criolo no Musicbox: casa cheia para ver um dos grandes nomes do rap lusófono

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 03/10/2024

Entrei no Musicbox com uma certeza: a casa vai estar cheia. A única dúvida estava em quem ia abrir o espetáculo nesta segunda data no Cais do Sodré, a 30 de Setembro. Depois de Muleca XIII — que, para os mais atentos, transmitiu através de uma live no Instagram o concerto completo da própria e de Criolo — quem seria o(a) convidado(a) do rapper paulistano?

MORIA foi quem se apresentou para abrir as “hostilidades” no microfone. Mas não se enganem: apesar de ser um nome que soa a “novo”, esta é uma figura já minimamente conhecida no underground em Lisboa, com o seu EP É FDD. assinado ainda como BR!SA. Acompanhada pelo DJ Algore, que ora completava as “barras”, ora nos surpreendia com scratch, a emergente rapper trouxe ainda Uno, rosto já veterano da cena hip hop alternativa, que mesmo da plateia fazia as backs sem precisar de microfone. Uma atuação enérgica, direta e incisiva que deixou a sala ainda mais quente que o habitual, mas com espaço para momentos acappella que puseram o Musicbox em silêncio para ouvir o jogo de palavras e cadências que Moria tinha preparado para o público. Público esse que entrou nesta viagem por um disco de estreia que É FDD. com alguma desconfiança e saiu conquistado pela performance e lírica da rapper.

Chegada a hora, a massa adepta foi clara: queremos Criolo! Apesar de ser a segunda data na capital portuguesa num curto espaço de tempo — ou a terceira, se considerarmos o concerto de sábado (28 de Fevereiro) em formato showcase, na Praça do Município, inserido na programação do evento Mundu Nôbu — contou com várias surpresas. A maior delas todas foi, sem dúvida, a presença de Dino D’Santiago, que por breves momentos desviou as atenções do palco num momento “Onde Está o Dino?”, em que os artistas trocaram alguns gestos à distância que se traduziam em expressões carinhosas. Criou-se alguma expectativa depois de ver esta cara conhecida em específico na sala, na ideia da possibilidade de ver e ouvir pela primeira vez ao vivo o singleEsperança” que junta o português aos brasileiros Amaro Freitas e Criolo — infelizmente, tal acabou por não acontecer, mas isso não tornou o concerto menos rico.

Em palco tivemos outras caras conhecidas como a de Cassiano Sena (aka DJ DanDan) que acompanha Criolo pela estrada há cerca de trinta anos; ou as de Ricardo Rabelo e Ed Trombone, que também já são associados à entourage musical do rapper. Juntos, guiaram-nos nesta viagem que foi desde Espiral de Ilusão a Convoque Seu Buda, passando pelo incontornável Nó Na Orelha, e que agradou tanto a sambistas como a hip hop heads. A sala, praticamente ocupada até à porta, acompanhou Criolo em todas as músicas que nos apresentou. Não estamos a romantizar nem a exagerar: a plateia cantou, literalmente, todas as letras do início ao fim — mesmo aquelas que pertencem a músicas que não estavam na setlist e que, em tom de brincadeira e provocação não só ao rapper do Grajaú, mas também aos fãs, DJ DanDan soltou, como o “Demorô Criolo”, que nos remete para o projeto Ainda Há Tempo, de 2006. Pois bem, Criolo Doido fez jus ao seu antigo nome — com o qual assinou este álbum Ainda Há Tempo — e cantou mesmo a nova versão deste single (“Demorô”), cujo instrumental foi adaptado após falta de licenciamento do sample original, que DJ DanDan procurou rapidamente na sua biblioteca de beats, oscilando entre a mesa de mistura e a frente do palco onde fazia as dobras dos versos. Mas soube a pouco. O público queria ouvir outros temas deste projeto, só que DJ DanDan não tinha mais instrumentais, então Criolo partiu para um acappella emocionado do refrão da canção que dá título ao álbum (“Ainda Há Tempo”), que me fez baixar a máquina fotográfica e olhar à volta para dar de caras com uma plateia completamente rendida, também ela emocionada com a performance que estava a acontecer naquela noite no Musicbox. Não sentia um público tão coeso numa sala como esta há muito tempo.

No fim do concerto Dino D’Santiago subiu ao palco a convite do rapper paulistano para receber uma ovação do público e despedir-se desta plateia especial que encheu o Musicbox a uma segunda-feira numa partilha muito bonita.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos