pub

Fotografia: Miguel Refresco
Publicado a: 30/01/2025

A rapper lança o disco a 21 de Março.

Capicua antecipa novo álbum: “É um disco do nosso tempo, em que estou com as botas enterradas na lama da actualidade”

Fotografia: Miguel Refresco
Publicado a: 30/01/2025

O novo álbum de Capicua, Um gelado antes do fim do mundo, começa a revelar-se esta quinta-feira, 30 de Janeiro. O primeiro single do disco, com beat de Stereossauro e produção de Luís Montenegro, tem por título “Making Teenage Ana Proud” e é uma faixa de rap com um forte espírito contestatário.

Em declarações ao Rimas e Batidas, Ana Fernandes desvenda o que podemos esperar do seu próximo álbum, um disco em que transita entre o rap, a palavra dita e um “registo mais cantarolado”, com mais instrumentos orgânicos do que o habitual. Canções que prometem reflectir os sinais dos tempos, o “espírito da época”, e onde podemos esperar uma Capicua de “botas enterradas na lama da actualidade”. 

O sucessor de Madrepérola será lançado a 21 de Março. Por agora, ficamos com as palavras da artista que antecipam o seu próximo projecto.



Este single tem por título “Making Teenage Ana Proud” por trazer ao de cima o teu espírito contestatário e inconformista? Eram as características mais presentes na “Teenage Ana”?

Sim, de facto a teenage Ana era bastante insubmissa e contestatária. Mas este título funciona como um lema que tenho desde o início do meu percurso artístico e também na minha vida pessoal, de quando estou perante determinadas escolhas, pensar se essa escolha orgulharia a Ana adolescente. Isso tem muito a ver com o facto de, na adolescência, termos mais aflorado esse espírito insubmisso e esse compromisso com a mudança do mundo eu pelo menos tinha. E detesto aquela frase cínica que diz que “aos 15 queremos mudar o mundo e aos 30 já só queremos mudar o sofá da sala”. Eu continuo a querer mudar o mundo e, por isso, tenho um bocadinho essa referência da teenage Ana com a força contestatária que me remete para a acção, para a luta e para pôr a minha escrita ao serviço do mundo. Este tema fala de várias questões importantes, mas acima de tudo celebra esse espírito insubmisso que tento manter bastante patente na minha música. E quis celebrar.

Era importante, nesta fase do mundo, trazer uma mensagem aguerrida e forte contra o sistema patriarcal e o reaccionarismo? É importante tomar uma posição face àquilo que hoje assistimos, com o crescimento do discurso de ódio e da extrema-direita?

Não só agora, como habitualmente, acho sempre que é importante trazer mensagens aguerridas em defesa daquilo que achamos justo e contra aquilo que achamos nefasto. Estranho seria que, no momento em que vivemos, eu não continuasse a fazê-lo. Portanto, sim, acho que é um bocadinho essa a lógica que está transversalmente por trás da minha discografia. Não é que eu só faça canções político-sociais, tenho muitos outros temas nos meus discos, mas isso é permanente, no sentido em que desde os meus primeiros EPs e mixtapes, passando por todos os meus álbuns, essa dimensão política e social sempre esteve presente. Portanto, estranho seria se num momento como aquele que estamos a viver, em que tudo se exacerba e em que vemos o crescimento da extrema-direita, imensos conflitos no mundo, a questão das alterações climáticas, uma tentativa de retrocesso de muitas conquistas sociais que fomos fazendo colectivamente… Estranho seria se não continuasse a fazê-lo e ainda de forma mais evidente. 

Dirias que este single é representativo do álbum que aí vem? Vai seguir esta linha em termos líricos e sonoros?

Do ponto-de-vista lírico, talvez seja, no sentido em que este álbum… Diria que metade ou mais de metade dos temas falam do nosso tempo, do espírito da época, destes desafios que vivemos. Do ponto-de-vista lírico, acho que pode ser representativo de pelo menos uma grande parte do disco. Do ponto-de-vista estético, não. Porque esta canção é um tema de rap, mais próximo daquilo que tenho feito, enquanto neste disco além de ele ser muito variado esteticamente eu ando sempre a circular entre o rap, a palavra dita e um registo mais cantarolado. Este disco é muito diferente, nesse sentido, em relação aos anteriores. Porque o centro das canções não é o bloco de rap. E há uma transição entre registos que eu nunca tinha experimentado fazer desta forma. Portanto, do ponto-de-vista estético não diria que este tema é representativo. Aliás, tive bastante dificuldade em escolher os singles, porque era difícil arranjar uma canção que fosse assim tão representativa do disco como um todo. Acho que os próximos dois singles vão compor essa representatividade, digamos. Fiquem aí para ouvir.

Um gelado antes do fim do mundo será um álbum doce para tempos conturbados?

Não sei se é um álbum doce, na verdade. Acho que o Madrepérola era um álbum mais doce, porque também era mais solar e optimista, feito durante uma gestação, em que estava com a esperança no futuro. Depois destes anos de pandemia, de crescimento da extrema-direita, de conflitos e guerras, das questões climáticas ainda mais exacerbadas, não conseguiria fazer um álbum doce. É um disco do nosso tempo, em que estou com as botas enterradas na lama da actualidade, da realidade, do espírito da época. Portanto, de facto, doce não diria que é tem um lado doce, emocional, explorei bastante essas questões no disco, mas diria que metade ou mais de metade é sobre o nosso tempo e esses desafios que temos colectivamente em mãos.

Nesta faixa contas com um beat do Stereossauro e instrumentos tocados pelo Luís Montenegro. Vais ter diferentes produtores e instrumentistas no disco? Há nomes que já possas divulgar?

Tenho vários beatmakers, como é habitual nos meus discos, e alguns deles, como o Stereossauro ou o DJ Ride, são companheiros de longa data. Mas, neste disco, a produção foi muito trabalhada com o Luís Montenegro, porque queria mudar o processo de construção, fazer coisas mais orgânicas, com mais instrumentos tocados, experimentar compor coisas de raiz a partir das minhas ideias… Então a lógica da construção do disco foi bastante diferente. Não foi tanto baseada numa recolha prévia de beats e depois trabalhar as letras a partir daquele beat já bastante acabado e depois fazer um arranjo e alguma pós-produção. Houve beats que quase desmontei com o Luís para os reconstruir, houve beats que começámos do zero com ideias que eu trouxe para cima da mesa e que depois se cruzaram com ideias do Luís, o Pedro Geraldes também contribuiu muito… Diria que este disco é tão electrónico como é orgânico, porque o processo foi feito muito dessas duas metades, e por isso é que o Luís também foi providencial. Porque ele domina de forma muito equilibrada os processos de construção de música electrónica e também é um multi-instrumentista, portanto também domina a parte da composição com instrumentos e tocou guitarras, baixos, teclados, piano… Houve um processo muito mais orgânico de composição neste disco do que nos anteriores e, de facto, o Luís foi a peça fundamental para eu ter conseguido passar por um processo tão experimental e chegar a este resultado. Ele foi o grande cúmplice na construção deste disco.


View this post on Instagram

A post shared by 🍦 (@a_capicua)

pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos