Parece que foi ontem, mas não, foi há um quarto de século. 25 anos, 2 décadas e meia desde a primeira vez que Bezegol, icónico nome da música nacional, gravou vez para um repertório que hoje é do domínio de grande parte do público português. Conhecido pela sua voz única e emblemática, a musicalidade do artista portuense pertence a uma categoria restrita no panorama nacional, já que tem vindo a desenvolver cada vez mais a sua dimensão sónica, que parece ser dos grandes focos do artista, sempre em busca dessa perfeição utópica.
Apesar dessa perfeição ser abstrata, desconhecida e inalcançável, Bezegol teima chegar o mais perto possível dela e trabalha semanalmente com a sua Rude Bwoy Banda para isso, sendo já protagonista de uma das máquinas mais oleadas do país em palco. Prova disso, é o Coliseu do Porto que o espera já este sábado, dia 22 de Fevereiro, para soprar as velas dos seus 25 anos de carreira, num concerto que promete ser memorável para a cidade e para o seu histórico pessoal. Por lá espera-se uma noite à la Bezegol, onde o reggae se funde com uma mentalidade de fora-da-lei, uma performance de enorme quilate acompanhado de alguns amigos que fez ao longo do seu trajecto dentro da cultura musical portuguesa.
Por isso mesmo, o Rimas e Batidas esteve à conversa com o veterano sobre este concerto celebrativo dos 25 anos desta sua travessia musical, com lampejos de que pode não ficar por aqui e expandir os horizontes para fora da sua cidade-natal do Porto, seguindo viagem pelo resto do país.
Em que momento sentiste que estava na hora de fazer o Coliseu, na tua cidade-natal do Porto? Qual foi o click?
Foi o ano passado. Na verdade, se contar os anos em que gravei oficialmente a primeira vez, já faz 26 anos este ano [risos]. O ano passado esta ideia veio-me à cabeça, mas sou-te honesto, foi mais por pressão de amigos à minha volta para fazer o Coliseu, disseram que se fosse para tocar no Porto tinha que ser Coliseu. Na verdade, não foi preciso muito tempo para me convencerem, achei logo uma ideia com pés e cabeça. Aqui no Porto, sendo a minha terra, com a evolução do tempo fomos tocando no Hard Club, Casa da Música… as casas que haviam na altura, da malta que é do tempo do Meia Cave e do Porto Rio, de sítios que já não existem. Tudo isto foi uma evolução progressiva, não foi algo de um dia para o outro. A verdade é que nestes anos todos nunca tinha tocado no Coliseu. É claro que implica sempre um risco fazer uma produção [própria] lá, já não é barato, não é mesmo, tem que se pagar muita, muita coisa. Isto foi um bocado a arriscar, em especial quando fazes pela primeira vez, mas também a confiar bastante no público que já temos vindo a reunir nestes anos todos que iria gostar de uma oferta de um concerto nosso no Coliseu e que iria aderir a isso. Felizmente aderiram, casa cheia já está, agora o caminho é para esgotarmos. Vai ser fabuloso, vamos rever os trabalhos todos que lancei até agora. Vou levar também um tema novo que tenho com o Mundo Segundo e o Deau.
Um tema inédito?
Sim, vamos tocar lá pela primeira vez. Já está gravado, temos andado em ensaios, está pronto para sair e em princípio sai digitalmente na noite antes do concerto. Vamos gravar lá no concerto, temos uma equipa a filmar que vai fazer um vídeo ao vivo desse tema com o público e depois aproveitamos para lançar essa versão ao vivo passado um tempo.
Como dizias há bocadinho, uma produção própria, que surge por vontade de fazer mais com a tua banda. Sentes que tens tido poucas oportunidades?
Honestamente não me quero queixar do rumo que as coisas levaram, acabou por ser de uma forma consciente que as coisas chegaram aqui, já esperava que isto fosse acontecer. Eu não lancei o projeto a nível comercial, nunca o pus aí fora dessa maneira, não tenho músicas em novelas porque também não quero, também não tenho músicas no circuito comercial, por assim dizer, tudo o que fiz até hoje foi editado por mim, os únicos contratos que faço às vezes é de distribuição para as coisas poderem chegar a mais sítios, como é óbvio, não tenho capacidade para fazer mais. Eu sempre gostei que as coisas fossem assim, isto acaba por ser uma consequência disso. Não estás na berra, deixas de ser contratado pelos promotores, isso é compreensível e não me queixo dos promotores por não me comprarem. Isto é mais para ter noção que continuamos a ter público, porque continuamos a ter gente que nos ouve e gosta daquilo que fazemos e sentimos esse apelo do público para irmos tocar aqui e acolá. Com isso, sentimos que tínhamos um fundo lógico para começar eu a produzir as coisas, depois de feitas as contas como é óbvio, faz parte do meu trajeto que tenho vindo a fazer, manter as coisas de uma forma underground. Underground é mesmo isso, estar fora do circuito comercial, fora desse radar e manter o projeto vivo. Este passo é mais para confirmar isso. Como é óbvio as coisas podem não correr tão bem como esperado se for fora do Porto, não sei se vou ter a mesma adesão no resto do país. Mas enquanto tiver e for lógico, enquanto não tiver que estar a pagar para fazer isto, vou tentar continuar a levar as coisas desta maneira. Portugal tem auditórios e salas muito fixes que dá para trabalhar e agora faz mesmo parte do projeto ter essa calma quando vamos tocar. Já fiz muitos anos a tocar em Queimas das Fitas, em slots de 45 minutos às 4 da manhã e que nem vais sequer levar o teu trabalho como querias, agora já passei essa fase. Acho que agora estou numa fase da minha relação com o público de os convidar a virem, em vez de comprarem-nos para convidarem. Passa por uma relação mais direta com o público. É completamente diferente seres tu a alugar a luz e som com os teus técnicos a decidirem contigo o que é melhor, sem estarmos com a preocupação de lidar com um stage manager que não conhecemos de lado nenhum que pertence à organização e nos diz para acelerar. Lá está, depois chegas à hora do concerto stressado, cansado e a más horas e só te apetece é ir dormir [risos]. Mas acho que com esta fórmula, enquanto tiver público a acompanhar, é a melhor maneira de me apresentar neste momento.
Enquanto pessoa, fora do lado artístico, é uma grande responsabilidade organizares isto, mas também uma enorme concretização e carinho especial ver as salas cheias, não é?
É mesmo. Quando abrimos a bilheteira em novembro, vendemos à volta de 500 bilhetes no primeiro fim-de-semana, claro que fiquei bastante entusiasmado, estava mesmo a funcionar. Mas também temos de ter noção que é o Porto, a cidade que me viu crescer. Hoje em dia temos é estas particularidades da Ticketline de termos acesso ao número de bilhetes que temos vendidos e por curiosidade vendemos bilhetes em todas as regiões do país. Bilhetes vendidos nos Açores, Madeira, Lisboa e isso dá-me um gozo do caraças, vai ser uma reunião ainda melhor, alguém que se dá ao trabalho de vir cá vindo de todo o país… vai ser uma grande reunião, vai ser fantástico. Temos 26 temas que vamos levar ao palco, tenho o Rui Veloso, Mundo Segundo e Deau, vai ser uma ser grande celebração, tocar os temas que vimos a fazer estes anos todos, vai ser muito bom.
Para além desses novos temas e os grandes hits, vais revisitar algumas coisas mais pequenas que te são também especiais?
Sim, estamos a preparar temas que dantes nunca tocávamos e agora temos feito algumas versões bem diferentes dos originais nos ensaios. Ter uma secção de sopros, guitarristas, dá-nos um arcaboiço sonoro muito mais pesado do que tinha no princípio, isso acaba por ser diferente do que quando só tocava com DJ, porque estás restrito aos instrumentais que tens na máquina. Agora podemo-nos dar ao luxo de fazer um dub no meio de um “Fora da Lei”, ou de estender uma versão no “Rainha Sem Coroa” ou no “Maria”, é fantástico. Podes trazer um som mais rico, por exemplo, o “Fire” que fiz em 2003 foi feito na garagem do Max, com um tecladozito pequenino que ele lá tinha e um software manhoso também [risos]. Então, é claro que com uma banda com 11 elementos o som digital desapareceu e temos tudo orgânico. Quem conhece os temas desse tempo e os vê ao vivo pela primeira vez nota uma diferença, e sentes logo um entusiasmo do público quando os tocas. Isto dá-me um gozo brutal, apetece-me logo gravar um novo álbum com remisturas, algo assim. É uma ideia que tenho, revisitar temas e tocá-los outra vez em estúdio com a banda, com este peso sonoro que temos agora.
Como vai ser essa disposição em palco da tua banda?
Tenho DJ, secção de sopros, guitarristas, baixos, trombones, saxofones, teclados, percurssão e back vocal. É a Rude Bwoy Banda, são 11 comigo em palco. Isto já vem de trás, mais recentemente entrou o Tozé como guitarrista, mas o concerto que demos o ano passado no Hard Club, foi mais ou menos com esta formação. Tem-se vindo é a trabalhar mais sobre isso, viu-se a necessidade de meter mais uma guitarra para complementar o que já tínhamos.
E a preparação para o concerto, como está a ser?
Reunimos todas as semanas, com ou sem concertos, por sistema. Agora até estamos a fazer ensaios de 4 horas que é para fazer o alinhamento todo do concerto e no fim revemos as partes onde tenham havido algumas dificuldades. Ao ensaiar todas as semanas conseguimos fazer sons novos, se eu tenho alguma ideia para um refrão é num ensaio desses que a transmito e nesses dias não ensaiamos e pomos o foco em fazer um som novo. No sítio onde gravamos, no estúdio do Rangel, acabamos por ter essa facilidade de passar a ideia para a parte prática. Mas sim, ensaiamos todas as semanas, temos vindo a escolher bem os temas, o concerto vai ter sensivelmente 2 horas e mais um bocadinho, também não quero esticar muito mais que isso, não quero cansar as pessoas [risos].
Acho que quem vem dos Açores ou Lisboa não se vai chatear muito…
Exato, exato [risos]. Ao todo são 26 temas no concerto, temos também merchandising, algumas t-shirts do “Fora da Lei”, alguns vinis que ainda sobraram, aquelas coisas que o nosso people já está habituado. Os vinis que vou levar é do Antologia Vol. 1, é um vinil duplo que fiz em 2023. Vou levar as poucas cópias que sobram e depois quero fazer um Antologia Vol. 2, em princípio deve ir para a fábrica ainda este ano.
Fala-me dessa novidade, o que tens planeado?
Vou fazer uma continuação da primeira, vai ser com temas de álbuns anteriores, mas neste vão ser mais temas que fiz com participações, como os sons com os Koalas Desperados, Deau, Mundo Segundo… essas coisas. Quero juntar isso aos sons novos que fiz do ano passado até agora e editar então mais um vinil duplo. Tenho algumas ideias na calha, tipo pegar num tema meu e pedir a um músico que eu goste para o tocar com o instrumento de eleição dele. Estou a pensar convidar um ou outro para fazermos outras versões de alguns temas meus, mas lá está, neste meu universo há muita coisa a flutuar [risos]. Eu funciono muito em ter a ideia e depois ir arrumando coisas para essa ideia até achar que ela tem pés e cabeça para a poder materializar e faço. Para este volume, já tenho ideias definidas e para o outro ainda há muitas ideias.
E temas originais, há alguma coisa na calha?
O ano passado lancei aqueles três temas e agora vai sair o tema que fiz com o Deau e o Mundo Segundo. Para já, tenho mais 2 temas que estou a abordar com a banda a nível sonoro, mas sim, conto este ano lançar mais alguma coisa. Não tenho números definidos de quantos tenho de lançar mas conto fazer isso. Com estes ensaios que andamos a fazer a preparar este concerto e outros que tenho pensados para outras cidades saem várias ideias para um refrão, uma música, ajudam muito. Acho que vai ser um ano parecido a 2024, se fizer mais 3 temas já me dou por contente.
Falaste em mais alguns concertos pelo resto do país, queres fazer uma pequena tour?
Sim, sim. Só não é bem uma tour porque não vão ser seguidos, nem eu próprio sei ainda onde é que vou. Por exemplo, tenho uma ideia para Lisboa, já ouvi falar de vários sítios mas vou ter que estudar isso com o resto do people para perceber onde será o sítio mais viável, desde o número do público ao preço do bilhete, fazer essas contas todas. A ideia a seguir seria fazer algo para Lisboa ou lá perto, como é óbvio é a capital e gosto muito de tocar lá, também já não tocamos lá há bastante tempo. É preciso fazer bem as contas disto tudo, só na produção e sem músicos, são 30 pessoas. Na parte técnica de palco e vídeo são 21 pessoas, muita gente, tem mesmo que se pensar muito bem nos sítios onde fazer isto.
25 anos de carreira com tanta coisa feita, o que achas que ainda te falta fazer? O que gostarias de arriscar um dia destes?
Opá… Eu continuo a achar que há certas cenas que ainda não fiz e que às vezes me apetece fazer, como, sei lá, um projeto de música eletrónica para ir buscar aquela velha cena do jungle e do drum & bass, já pensei em fazer isso. Agora que já passei os 50 anos, também penso em fazer um álbum de fado, com a sonoridade chegada aos “fados” que tenho feito até agora. Sinto que ainda há muita coisa que pode ser feita, mas tem de ser bem feito. Às vezes as coisas demoram um bocado a virem cá para fora precisamente por isso, não gosto de fazer só por fazer, têm que me dizer bastante para ir a estúdio com toda a gente. Dentro disso, há coisas que me faltam fazer, o projeto da Rude Bwoy Banda eu quero elevá-lo a Rude Bwoy Big Band, ter uma banda com 20 elementos, ter uma secção maior de sopros, se calhar ter uma secção de cordas… com essa evolução acaba por também evoluir o meu som. Então, sinto sempre que há coisas para fazer, não vou nem atingir a perfeição. Isto acaba por ser sempre uma busca, o som como arte é que é, andamos sempre à procura de alguma coisa, juntar alguma coisa com outra coisa e fazer uma coisa nova. A música tem poucas notas, já estão todas inventadas, só andamos a mexer com o que já foi feito. Dentro da minha maneira acho há várias maneiras que ainda não experimentei e que posso vir a experimentar, vamos ver o que o tempo nos traz.
Nem te perguntei, mas tens formação musical?
Não, zero. É tudo de ouvido.
Practice makes perfect… no teu caso não poderia ser mais verdade.
Sempre, acho que essa perfeição não existe, tudo o que fazemos podia ser melhor… quanto mais não seja nos ouvidos dos outros, é isso que faz de nós todos imperfeitos. É isso que faz isto ter piada também, se alguém atingisse esse nível de perfeição era um bocado game over para o resto dos mortais [risos].
Para o Coliseu no dia 22, podes desvendar um bocadinho mais do que tens preparado?
Uma cena que sei que vai ter e é porreiro é termos investido numa equipa de produção de vídeo, vamos ter um ecrã de 7 por 4 metros por cima de nós e mais 2 ecrãs laterais, de 4 metros. Vai ser filmado e reproduzido em tempo real, mesmo para quem esteja em partes do Coliseu com menos visibilidade. E claro, vamos ficar com esse registo para posteriormente lançarmos no canal de YouTube. Vamos ter esse cuidado com a produção, é um bónus muito fixe, para a malta também sentir que participou nessa noite só por estarem lá, vai ser muito fixe. Quem puder, que apareça.
Nada a ver com este assunto, mas recentemente foste “vítima” de sampling da parte do Van Zee e do FRANKIEONTHEGUITAR, no tema “Como Seria / Amor Sóbrio” que faz parte do disco Alta Costura deles que é basicamente centrado em homenagens/samplings de clássicos da música portuguesa que também os marcaram. Qual foi a tua reação a essa homenagem da parte deles?
Opá, por acaso achei muita piada quando ouvi a primeira vez. Primeiro, não estava a contar. Não é por estar à espera de outra coisa. Quando me falaram que tinham usado o tema a primeira reação foi “então e dá para ouvir?”, ouvi umas quantas vezes e achei logo que estava muito fixe. Foi uma ideia muito fixe, posso falar pelo Deau nisto também, gostei muito de como pegaram no tema. Se não estou em erro, o Van Zee e o Frankie até são mais novos que o meu filho, ’tás a ver? Ver a geração a seguir a pegar no trabalho que a gente fez e a valorizarem é muito positivo… a brincar, a brincar, esse som faz este ano 10 anos desde que saiu. Ainda por cima, considero estes putos bastante underground da forma como apareceram… Quando digo este putos, refiro-me a esta geração, esta nova vaga , então faz parte que a nossa geração perceba e aceite a mudança dos tempos e cabe à nova fazer este tipo de cenas para os que vierem a seguir entenderem o que é que a gente andava cá a fazer. Pegarem no meu trabalho é fixe, estão a perpetuar o que fizemos, fico-lhes agradecido.
Acaba por ser um statement este Alta Costura.
É, ainda ontem estava a falar com um amigo meu brasileiro e a constatar o porquê de na música portuguesa não vermos malta a tocar sons de outros projetos, no Brasil é comum isso acontecer, tocam 2/3 temas de músicos da terra deles, cá é muito raro fazerem isso. Não sei se é um problema de ego que um gajo tenha, mas é uma grande pequenez não se fazer isso. Acho muito fixe estar no concerto de uma banda que eu gosto e eles puxarem de um tema de uma banda que eu também gosto, que vieram antes deles, mais antiga e que os inspirou, acho que valoriza bué o trabalho do país e os artistas entre eles, cá faz bastante falta isso. Aqui há muito o “eu é que sou bom” e isso é foleiro, acaba por se perder muita colaboração à pala disso, quanto mais não fosse experimentavam-se mais coisas, até podia surgir mais asneiradas mas é do erro que se descobre muita coisa. Aqui somos muito competitivos, isto não deixa de ser uma arte, não devíamos ser tão competitivos, devíamos era compartilhar mais as experiências uns com os outros. Faz bastante falta isso na cultura portuguesa.
Especialmente nas gerações mais velhas sente-se bastante que existe essa resistência em trabalhar com os mais novos.
É, e há uma merda que me chateia à brava que estas gerações mais velhas são sempre as do “no meu tempo é que se fazia, eu já isto e aquilo…” Esse tipo de discursos só cansam e não são producentes, o gajo na geração a seguir à minha está-se a cagar para as minhas dificuldades artísticas, está é preocupado com o que ele vai fazer e se conseguir evitar essas dificuldades, melhor, é sinal que os tempos evoluíram. Quando oiço os mais velhos a dizer “no meu tempo era tudo analógico, não nos podíamos enganar porque era com fitas”, opá, que azar que era assim, mas ainda bem que agora é digital e te podes enganar 500 vezes e não vais gastar dinheiro com isso, só tempo. Devíamos abraçar essas coisas ao invés de acharmos que uns são menos que os outros, essas merdas é que nos fazem ser uns encravados, porque depois isso faz com que a gente não tenha respeito pelo que se faz em Portugal, e se nós próprios não temos esse respeito, quem é que vai ter? Por exemplo, recebes cá um amigo teu estrangeiro que nunca esteve cá, a primeira coisa que fazes com ele é levá-lo a comer, nunca dizes que o vais levar a um concerto de um gajo daqui, não é? Porque lá está, não temos esse gosto, porque se tivéssemos, não só o levávamos a comer e a beber como também a ir a um concerto de uma banda daqui que gostamos. Nós não temos isso com as nossas artes, precisamente porque não temos esse respeito todo por elas. Enquanto não nos respeitarmos a nós, dificilmente os de fora vão respeitar.
Voltando à conversa do Van Zee e Frankie, termos malta a pegar num som de um gajo é, para mim, das maiores formas de respeito, de demonstrar que tens respeito por quem está cá como tu. E mostram muito isso ao contactar se não te importas que isso aconteça, quando todos nós sabemos que isso não era preciso acontecer, mas houve essa educação. Podiam só lançar e se não gostasse “então agora processa-me”, mas não valia a pena porque não ia a lado nenhum esse processo [risos]. Então, isso é demonstrar que têm respeito aqui pelo mais velho, por quem está a trabalhar numa cena antes deles e teve esse peso de pegarem no timeframe de quando fizemos esse som e meterem no timeframe deles, acho que isso é uma honra.
A aceitação da tua parte também é bonita.
Claro, também sei que com isso vai haver muita gente que não fazia ideia de quem sou e que vai passar a saber, só tenho é que lhes estar agradecido… e quem sabe, se calhar, um dia destes tocarmos juntos, algo assim. Havendo abertura, o resto aparece.