pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/03/2023

Para o infinito e mais além.

Azar Azar no Ferro Bar: gotas cósmicas nos nossos ouvidos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 13/03/2023

Sérgio Alves, aka Azar Azar, apresentou na passada sexta-feira no Porto, no Ferro Bar, o seu álbum de estreia, Cosmic Drops, acabadinho de lançar na Jazzego. Acontecimento importante, pois claro. Antes de mais, porque prova que há vida, vibração e urgência neste jazz que não é bem jazz, mas que é de agora e daqui. Num clube onde não cabia nem mais um par de ténis, as pessoas todas – muito jovens, bem diversas, nativas analógicas na sua maioria – entregaram os seus ouvidos e outras partes dos seus corpos à chuva de gotas cósmicas com que o teclista nos presenteou. Sorte a nossa.

No palco, a alegria era indisfarçável: a história deste disco, como nos revelou Sérgio Alves na entrevista que nos concedeu, já ia longa e estes músicos quiseram ali celebrar o facto de Cosmic Drops estar, finalmente, a ver a luz do dia. A energia da plateia também contribuiu decisivamente para que a banda tenha muito fácil e rapidamente entrado em órbita. Tudo somado, reuniram-se no Ferro as condições ideais para uma noite épica. No grande esquema das coisas, este concerto pode não ter passado do bater de asas de uma borboleta, mas bem sabemos o que nos diz a teoria do caos quando isso acontece…

Manu Idhra na percussão, João Samuel no saxofone, Pedro Ferreira no baixo e Ricardo Danin na bateria ladearam o líder e teclista Sérgio Alves na viagem por um alinhamento que, naturalmente, se concentrou sobretudo no longa-duração acabado de lançar, mas que não esqueceu outros momentos da ainda curta discografia de Azar Azar: “Space Gazing”, “Inner World” (de Azar EP), “Miles Backyard”, “Golden Wonderland”, “Red Cosmos” (versão ao vivo da contribuição de Azar Azar para a compilação Granito), “Dreaming Waves” – que contou com uma bela prestação de Helena Neto, que aqui interpretou o “papel” que na versão incluída em Cosmic Drops pertence a Beth Hirsch -, “Invite your Demons to Dance” (das sessões gravadas ao vivo no Arda Recorders) , “Moving In Outer Space”, “Space Coconut Conspiracy” (também de Azar EP) e “Sunlight” foram as etapas desta viagem até Andrómeda (ou lá perto…).

Todos os músicos em palco sabiam muito bem o que fazer com os seus respectivos instrumentos: os primeiros aplausos foram, justificadamente, entregues a Sérgio Alves, que ao longo da noite não apenas nos presenteou com vários solos de absoluta fluidez e cristalina elegância, como ainda soube banhar em pó-de-estrelas todos os arranjos, oferecendo bases harmónicas para as órbitas ensaiadas pelo saxofone de João Samuel, dono de um som musculado e capaz de debitar riffs plenos de groove. Na base rítmica, Pedro Ferreira e Ricardo Danin apresentaram-se com ampla energia, assumindo a propulsão da “nave” com perfeito domínio das diferentes nuances do groove – de colorações latinas a tangentes mais funk ou disco, tudo funcionou nesta missão ao espaço profundo conduzida por Azar Azar.

O som da sala poderia ser melhor? Claro que sim. Mas num contexto de pequeno clube e perante uma plateia totalmente preenchida talvez não seja possível privilegiar os detalhes e seja mesmo melhor dar corpo à força colectiva — e nesse campo não houve nada a apontar. A música de Azar Azar vive de energia, mesmo nos temas de combustão mais lenta, e nesse plano a apresentação foi perfeita deixando vontade de acompanhar o crescimento que este projecto terá caso consigam arranjar outros palcos onde fazer aterrar a sua nave. Lá estaremos quando isso suceder.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos