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As versões tocadas ao vivo podem ganhar uma vida própria além das suas progenitoras de estúdio. Por vezes, surgem como conforto, para espairecer de tocar a mesma música em incontáveis ocasiões, outras vezes saem ao lado, quando o sistema de som não ajuda ou o público não está para aí virado. E outras vezes surgem transfiguradas, com uma nova roupagem, e foi isso que Catriel Guerreiro e Ulises Guerriero fizeram com a sua potente “LA QUE PUEDE, PUEDE”. No Tiny Desk Concert da norte-americana NPR, apresentaram uma versão renovada desse tema que editaram enquanto duo CA7RIEL & Paco Amoroso. Mas a história musical destes dois amigos é mais antiga.
Catriel Guerreiro e Ulises Guerriero conhecem-se desde a escola primária. A música está no centro das suas vidas desde tenra idade, sendo que a paixão de ambos pela arte sonora levou Catriel Guerreiro a recrutar Ulises Guerriero para a banda Astor. Inspirados pelo rock e pelo funk, são eles que vemos a espalhar magia na drum machine (Paco Amoroso) e na guitarra vermelha (CA7RIEL) nesta versão do tema “Patos”, do único EP lançado pela banda em 2017, Vacaciones Todo el Año. Sete anos depois do seu começo, o grupo separou-se, mas a carreira musical de ambos não ficou por ali. CA7RIEL iniciou o seu percurso como rapper e em paralelo começou outro projecto com Guerriero focado na música urbana.
O primeiro tema de CA7RIEL & Paco Amoroso surge em 2018. “Piola” é uma música honesta, sobre algo que não corresponde às expectativas, com um beat desinteressado e etéreo. Mas foi apenas com a descontracção estridente de “OUKE” — em que começamos a ouvir o ouvido de CA7RIEL para bons refrões — e o trap possante de “Jala Jala” que começaram a ter sucesso no seu país natal. A abordagem do duo passa muito pela música electrónica acoplada a vozes multifacetadas confortáveis em barras ou melodias. CA7RIEL tem um timbre mais harmonioso, propenso a refrões açucarados e notas mais sentidas, enquanto Paco Amoroso aposta numa entrega mais rústica mas não menos carismática. Estas qualidades aliadas a uma boa química entre os dois fazem com que sejam considerados duas inovadoras vozes no panorama musical argentino contemporâneo.
Depois de se “despedirem” por três anos com a ginga cintilante de “Cono Hielo”, voltaram ao ataque em 2022 com três temas novos. Em “EN EL AFTER” vemo-los pela primeira vez a explorar além da música electrónica, incorporando elementos da música brasileira na sua composição. E dois anos depois, “LA QUE PUEDE, PUEDE” aterra nos nossos ouvidos e deixa uma cratera musical profunda com os seus graves constantes e os seus glitches agudos. De energia imparável e dominante, a música é explosiva e os seus intérpretes sabem-no. Foi uma primeira amostra do que estava para vir e “DUMBAI” troca a dureza do single anterior por uma leveza que grita sol e convida a abanar o corpo com o seu refrão bamboleante.
Em Abril deste ano, chegou BAÑO MARIA, o primeiro longa-duração de CA7RIEL & Paco Amoroso, que funde a música electrónica com vários géneros como o trap, a música latina ou a música pop. “BABY GANGSTA” recebe-nos em grande forma, um aguerrido drum and bass cruzado com um R&B meloso, e “SUPERSÓNICO” apresenta-nos uma pop acelerada e de amor próprio com um começo enganador. Já “SHEESH” tem qualquer coisa de galã mas também de ameaçador na sua batida de melodias tensas que alternam com um brilho de pads. Não há nenhum tema com mais de três minutos, mas a acertada composição musical estica esse curto espaço de tempo, intercalando músicas românticas de olhar para o futuro com doçura, como “COSAS RICAS”, com baladas de coração partido, como a dolorosa “PIRLO”, ou com músicas de confissão e vulnerabilidade, como a psicoterapia dançável de “DIABLO”. Os temas vivem da pluralidade sonora executada pelos seus autores. Na era da informação e de estímulos vindos de todos os lados, o álbum de estreia de CA7RIEL & Paco Amoroso espelha-os tanto a eles como ao presente que os rodeia.
BAÑO MARIA foi o culminar de uma viagem musical que já passou por muitas fases. O interesse pela música continua presente, mas a maneira como CA7RIEL & Paco Amoroso a encaram mudou. Cresceram, descobriram novas influências e respiraram novos ares sonoros, emergindo como uma aposta refrescante da música argentina, e isso não toca a todos. Mas quem pode, pode.
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